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Editorial: Uma política ambiental contra o Brasil
Opinião

Editorial: Uma política ambiental contra o Brasil

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Tipo Notícia

A imagem que o Brasil demorou décadas para construir, baseada em uma diplomacia respeitada em todos os fóruns mundiais, foi destruída rapidamente em pouco mais de um ano, a partir do governo de Jair Bolsonaro. Tanto em organismos bilaterais quanto na imprensa internacional, o Brasil vem sofrendo seguidos reveses. Relatos individuais, de residentes ou visitantes do exterior, também mostram essa mudança de clima.

Os estrangeiros querem entender "o que está acontecendo" com aquele País simpático e acolhedor. Descontando-se certa dose de estereótipo, essa ideia fazia parte do "soft power" brasileiro, muito útil em relações pessoais e também em transações diplomáticas e comerciais. Esse pacote da boa fama do Brasil, incluía ainda a preocupação de seguidos governos com o ecossistema e com a proteção das populações originárias.

No entanto, o Ministério do Meio Ambiente vem se tornando uma das fontes de demolição dessa imagem do Brasil no exterior, devido à sua política que propicia a destruição de áreas de florestas e a invasão de terras indígenas. Os alertas de desmatamento da Amazônia têm apresentado seguidos recordes. Em abril deste ano, o índice subiu 64% em relação ao mesmo mês de 2019. Ainda assim, o governo insiste em defender a "regularização fundiária", que Ricardo Galvão - antigo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) -, chama simplesmente de legislação para facilitar a "grilagem" de terras. Segundo ele - demitido do Inpe por alertar sobre o aumento da destruição da floresta - o desmatamento caiu mais de 80% entre 2004 e 2012, "baseado em dois fatores: controle e punição", fato ignorado pelo governo, afirma Galvão (entrevista à revista Época, 29/5/2020).

Assim, o Brasil deixou de ser uma liderança no combate ao aquecimento global para ser visto de forma inversa, como ameaça aos esforços para a preservação do planeta.

A situação piorou depois de divulgado o vídeo da reunião ministerial de 22/4/2020, no qual o ministro Ricardo Salles propõe mudar normas ambientais à revelia da sociedade. O termo usado por ele foi "passar a boiada", enquanto a imprensa estava ocupada em dar informações sobre a pandemia do coronavírus. Nesta semana, foram extintas três bases do projeto Tamar - conservação de tartarugas marinhas - no Nordeste, talvez já fruto desse novo tipo de política, urdida longe da luz do sol.

O problema é que, além do custo ao meio ambiente, há também graves prejuízos comerciais decorrentes dessas medidas. Cada vez mais os grandes fundos de investimento deixam de aplicar recursos em países de má reputação ambiental. Além disso, produtos brasileiros correm o risco de sofrer boicote de consumidores estrangeiros. Logo, a política ambiental parece trazer apenas malefícios, tornando-se incompreensível a insistência do governo em sua continuidade. 

 

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