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O que é racismo estrutural
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

O que é racismo estrutural

Tipo Opinião
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO
 (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Lamento que muitas pessoas não consigam perceber o que é racismo estrutural. Infelizmente, eu sempre soube, na prática. Depois que deixei de ter empregada doméstica, passei a recorrer às faxineiras do Sine (Sistema Nacional de Emprego). Não conto as vezes que a profissional me perguntou pela dona da casa. Sempre respondia que a "dona da casa" havia saído, oferecia o café da manhã e indicava o local onde a moça deveria trocar a roupa. Só quando a casa começava a ganhar vida, com seus ocupantes se referindo a mim como "mãe", é que a confusão era desfeita. Mais de uma pediu desculpas e uma delas me disse que eu era muito "franzina" para ser dona de casa.

Acontece que no local onde eu moro, mulheres da minha cor, geralmente, são as empregadas domésticas, as babás, as atendentes das padarias, as trabalhadoras de serviços gerais, incluindo as diaristas. O racismo estrutural é este que não descola a pessoa da sua cor, e a coloca sempre num lugar inferior e isso inclui, até mesmo, os iguais. A faxineira estranha ser atendida por alguém com traços físicos que ela própria carrega. Numa forneria aqui por perto, a moça que nos atendeu indicou apenas as promoções. Quando eu pedi uma pizza fit, ela me alertou: "Essa é cara e não está em promoção". Então, disse a ela, delicadamente, que não se preocupasse. Naquela noite, estávamos comemorando algo.

Há uns quatro anos, uma das minhas filhas foi contratada por uma jovem empresária que queria ingressar numa universidade norte-americana. Precisava de uma boa pontuação no exame Toefl e minha filha iria prepará-la para um dos testes. No prédio, o segurança informou sua chegada, e rapidamente indicou o elevador que, só ao desembarcar, soube que era o de serviço. A empresária pediu desculpas e reclamou, de imediato, com o segurança, que não deve ter entendido nada. Por que aquela moça negra teria o privilégio que outras não tinham? O racismo estrutural está tão arraigado na cabeça das pessoas que essas ações passam despercebidas. Se feita uma pesquisa, todas elas condenariam o racismo de forma veemente.

Esta semana, ouvi da psicanalista Denise Maurano que o racismo até pode comparecer como afeto primitivo, mas a pessoa sempre poderá deliberar se o aceita ou não. É neste ponto que as práticas sociais fazem a mediação e o racismo se apresenta em seu pior e mais inflexível estágio. 

 

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