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Luizanne e seu "game out of power"
Opinião

Luizanne e seu "game out of power"

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Quando a então deputada estadual, Luizianne Lins, venceu uma disputa interna para disputar a sucessão de Juraci Magalhães, em 2004, partiu para uma campanha “contra tudo e contra todos”. Mas esse “tudo e todos” dizia respeito, antes de mais nada, aos grandes nomes de seu partido (Lula e Dirceu, sobretudo) e do bloco de esquerda alencarino, que apostava suas fichas no nome de Inácio Arruda. Foi para a campanha deste que o PT nacional mobilizou recursos, cabendo à Luizianne apenas “uma bandeira”, como, dois anos depois, lembraria a então senadora Heloisa Helena.

Vencido o pleito, sem nenhum envolvimento dos grandes do partido (que, naquele momento, eram também os “grandes” de Brasília), Luizianne amealharia um capital político que lhe garantiria importante lugar no arco de alianças que levaria Cid Gomes ao governo em 2006. No ano de 2008, a candidata de “fora do jogo de poder” cedia espaço à “candidata de todos”, num enorme bloco de aliança para sua reeleição.

Mas, continuava a não contar com o apoio do poder central em sua campanha, pois Lula temia desagradar o bloco dos Ferreira Gomes, que então apoiavam Patricia Saboia. Em 2012, novamente, o poder central não se mobilizaria na campanha a favor do candidato da então prefeita, Elmano de Freitas; o enorme arco de alianças do governo central impedia Dilma Rousseff de mobilizar-se a favor do petista e contra Roberto Cláudio. Essa tarefa coube à Lula, e não rendeu o resultado esperado: Elmano perdeu.

Em 2014, o grupo de Luizianne tentou forçar o lançamento de uma candidatura ao governo, mas foi impedido por interesses dos caciques estaduais. Em 2016, já com seu partido alijado da esfera federal, lançou-se candidata à prefeitura e viu novamente Lula a pedir votos para si; isso se deu porque o PT, uma vez fora do poder, não tinha mais aliados aos quais deveria “prestar contas”. Naquela eleição o poder central, sob Michel Temer, permaneceria fora de sua campanha.

Agora, novamente, a deputada põe seu nome “contra todos”: contra o poder central, pretendo capitalizar os votos de uma agenda anti-Bolsonaro; contra Roberto Cláudio, mostrando-se como “oposição popular” à gestão do prefeito; e contra Camilo Santana (nome de maior poder institucional no partido), sinalizando seu desacordo com o grupo dos Ferreira Gomes.

Ao longo de sua trajetória, a deputada parece ter se fincado na posição de “game of the power”, alguém que gosta de jogar por fora, contra as estruturas estabelecidas do poder político. Nunca contou com o envolvimento de presidentes (Lula e Dilma) de seu partido em suas campanhas, tampouco com o governador (Camilo). Na única eleição em que marchou unida ao poder estadual foi em 2008.

Agora, o mesmo cenário se desenha, tentando mobilizar-se contra as três esferas, opondo-se ao candidato bolsonarista e ao de Roberto Cláudio, que deverá ser o mesmo de Camilo.

Contudo, ela não é mais a "novidade" de 2004. Saiu da prefeitura com uma avaliação a tal ponto ruim que não lhe possibilitou fazer o sucessor.

Sua empreitada será exitosa desta vez?


Emanuel Freitas da Silva
Professor Assistente de Teoria Política
Pesquisador do NERPO (Núcleo de Estudos em Religião e Política)
e do LEPEM (Labortatório de Estudos de Processos Eleitorais e Mídia)

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