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Cleyton Monte: Para além do Bolsa Família
Opinião

Cleyton Monte: Para além do Bolsa Família

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Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Cleyton Monte Cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)

A aprovação do presidente Bolsonaro registrou melhora significativa nos últimos meses. Grande parte dos especialistas atribuiu tamanho feito às consequências do auxílio emergencial em um terreno atravessado pelas facetas da pobreza. Tão logo visualizou a possibilidade de mergulhar em mares dominados pelo lulismo, Bolsonaro e equipe rapidamente começaram a formular um programa permanente de renda básica. Um projeto de dimensões orçamentárias colossais. Entre idas e vindas, a proposta encontra-se em estudo. De qualquer forma, parte da imprensa e alguns desavisados, tentam restringir o fenômeno do lulismo ao Bolsa Família, produzindo um show de desinformação.

O lulismo ganhou força em todo o País, destacadamente no Nordeste, ao construir um conjunto poderoso de políticas que permitiram as maiores taxas de crescimento econômico do início do século XXI, a redução substancial dos cenários de miséria e a incorporação social de grupos historicamente marginalizados. Isso foi alcançado pela valorização real do salário mínimo e por políticas planejadas de ativação do crédito interno. Programas como o Luz para Todos, Prouni, PAC, Minha Casa, Minha Vida e as UPAs fizeram a diferença. É bem verdade que as pesquisas de André Singer, Ruy Braga e Luis Felipe Miguel demonstraram que o lulismo é um arranjo ambíguo, aproximando ações de mudança, velhas práticas políticas e manutenção da ordem socioeconômica. A inclusão alcançada se fez a partir do incremento do consumo e não de uma gama de direitos, ficando refém das oscilações de mercado e dos grupos políticos de plantão. Além disso, o antipetismo, alimentado desde a disputa de 2014, passando pela Operação Lava Jato, crise econômica e eleição de Bolsonaro, foi essencial para distorcer a importância dessas iniciativas.

Apesar de emblemático, o Bolsa Família representa apenas uma pequena parte da gramática lulista. É óbvio que o panorama econômico era diferente. Entretanto, se quer mesmo se consolidar politicamente entre os mais pobres, Bolsonaro deverá pensar além do auxílio emergencial - algo que parece não integrar o radar do presidente e de sua equipe. O crescimento da fome, apontado pelo IBGE, atesta a falta que faz uma rede integrada de políticas e especialistas focados na inclusão - um esforço que deveria ser de Estado. 

 

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