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Reginaldo de Aguiar Silva: O dragão da inflação está voltando?
Opinião

Reginaldo de Aguiar Silva: O dragão da inflação está voltando?

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Reginaldo de Aguiar Silva 
Economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Reginaldo de Aguiar Silva Economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

Na pandemia, entre abril e agosto, alimentos em Fortaleza tiveram elevações significativas: carne 17,75%; feijão 16,06%; arroz 24,61%; óleo 18,82%. Como estabilizador de preços falou-se em patriotismo e quiseram responsabilizar o uso do auxílio emergencial, transformando consumidores de vítimas em vilões, supostos responsáveis pela alta dos preços. Mas qual o real motivo dessa alta num momento em que o País passa por uma das maiores crises sanitárias dos últimos 100 anos?

No fim do ano de 2019, veio à tona a alta do preço da carne - cujas causas eram as exportações -, forçando os brasileiros a consumirem mais carne de segunda, frangos e ovos. Estamos vivendo agora o mesmo fenômeno, que atinge os preços do arroz, soja, trigo, carnes, dentre outros. Com o dólar a - R$ 5,46 -, o retorno para os exportadores é mais vantajoso, além do preço internacional ter se elevado bastante, assim ganha-se duplamente. Como exemplo, podemos citar as exportações de arroz, que cresceram de 65 mil toneladas em março para 244 mil toneladas em julho, reduzindo significativamente a oferta interna.

Os órgãos reguladores que têm o poder de estabilizar os preços e fazer com que os produtos não faltem no mercado interno e verificam a qualidade nutricional desses alimentos, como Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que hoje está com seus estoques reduzidos, e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), estão sendo desmontados.

O auxílio emergencial não explica essa alta dos alimentos. O que explica é a elevação das exportações, principalmente durante a pandemia, somada à desvalorização do real, acrescida de uma política de desmonte dos órgãos e conselhos que têm a função de evitar o desabastecimento. Mal exemplo este não seguido por outros países que, nesse momento, têm reduzido as exportações exatamente para garantir a segurança alimentar de suas populações.

No Brasil fica a missão de substituir sua comida por produtos mais baratos e de menor qualidade, atingindo os mais pobres e vulneráveis, dado o peso das despesas com alimentação ser maior nessa faixa de renda. 

 

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