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Martonio Mont'Alverne Barreto Lima: A democracia dos Estados Unidos
Opinião

Martonio Mont'Alverne Barreto Lima: A democracia dos Estados Unidos

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Martonio Mont'Alverne Barreto Lima
Professor da Unifor
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Martonio Mont'Alverne Barreto Lima Professor da Unifor

A posse do presidente Joseph Biden foi vista como a celebração da vitória da democracia dos Estados Unidos e de suas virtudes. Logo após a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump, o curso normal da posse seria a confirmação do Estado de Direito, com aplauso do Ocidente que viu aqui a firmeza de seus valores liberais. A objetividade da história aconselha cautela com empolgações.

Os valores liberais da democracia ocidental não impediram que o governo de Obama tenha sido o que mais desencadeou guerras mundo afora durante seus dois mandatos, com o arrependimento tardio das autoridades que entregaram o Nobel da Paz a Obama em 2009. Os mesmos valores não foram obstáculos para que Estados Unidos e União Europeia apoiassem governos com integrantes abertamente nazistas, como o da Ucrânia, ante a justificativa de contenção da Rússia. Do ponto de vista interno, a sociedade americana jamais viu desafios quando seus governos apoiaram a destituição de governos legítimos na América Latina e noutros continentes. Nunca o problema racial nos Estados Unidos foi verdadeiramente enfrentado até hoje. Quem lê as decisões da Suprema Corte americana de apoio ao segregacionismo ao final do século XIX e começo do século XX e ouve os argumentos dos supremacistas de hoje, tolerados pela mesma sociedade americana em distintas épocas, surpreende-se como um tema dessa magnitude não tenha realmente chegado à Casa Branca. Assim como não se discute seriamente a mudança de um sistema eleitoral pré-moderno, formulado para garantir que mudanças estruturais da visão dos pais fundadores não sejam efetivadas, cuja eleição indireta do presidente é o principal ponto.

Biden não trará grandes mudanças em relação a Trump. Manterá o mesmo sistema político que exclui proporcionalmente minorias da representação política. Foi Biden quem veio ao Brasil tentar explicar à presidenta Dilma Rousseff que os Estados Unidos não poderiam se submeter a sistemas legais limitadores da garantia de seus interesses, quando da espionagem contra à presidenta. Parece que a Realpolitik remanesce como a melhor conselheira para compreensão da política interna e externa. 

 

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