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Cícero Robson Pereira: Carnavais, mamatas e big brothers
Opinião

Cícero Robson Pereira: Carnavais, mamatas e big brothers

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Cícero Robson Pereira, sociólogo e professor
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Cícero Robson Pereira, sociólogo e professor

Na midiática realidade das redes sociais (virtuais, virais e vorazes), a disseminação e o consumo incessantes das informações impõem o desafio permanente do olhar atento e reflexivo.

A cada semana, um novo assunto ocupa o noticiário, trazendo polêmica e exortando o engajamento momentâneo dos internautas. Mas o que à primeira vista parece representar o amadurecimento da opinião pública, tem se mostrado um sedutor instrumento de distração das consciências.

Se não haverá carnaval no surreal ano de 2021, que tal se deleitarem com as notícias sobre os gulosos gastos do Governo Federal com leite condensado?

Pode até não resolver o problema da corrupção, mas quem quer perder a piada? Há muito tempo, rir do absurdo tem funcionado como uma verdadeira catarse coletiva.

A política já se rendeu mesmo às estratégias do marketing publicitário... Então, até notícia ruim rende visibilidade gratuita. Afinal, 2022 está chegando, e quem não é visto, não é lembrado.

A carnavalização da política aceita até uma festa com 300 pessoas para aglomerar (ops, comemorar) a eleição do Presidente da Câmara, com direito à despudorada retirada das máscaras (reais e simbólicas).

Mas quem não estiver com vontade de acompanhar o enfadonho e previsível roteiro político, pode se aventurar no universo dos "reality shows", cuja realidade mais evidente é a de enganar os telespectadores com a sensação de que lá, pelo menos, eles mandam nos destinos dos "atores".

Nos palcos de Brasília, ao contrário, a sensação é de frustrante impotência. Como hoje quase tudo se reveste de caráter político, é possível fazer das disputas entre os brothers o microcosmo de questões identitárias e do debate sobre representatividade social. Independentemente do resultado, cada um poderá se sentir representado pelo participante preferido.

Em meio aos cenários instáveis das notícias efêmeras, não existe roteiro prévio. É possível transitar em todas as plataformas e imergir em conteúdos diversos. Mas se arme com as ferramentas que de fato protegem: o olhar atento, a reflexão crítica, a disposição democrática e o espírito humanista. 

 

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