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Bruno de Castro: A dor e a delícia de um Black Brother Brasil
Opinião

Bruno de Castro: A dor e a delícia de um Black Brother Brasil

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Bruno de Castro, jornalista (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Bruno de Castro, jornalista

Quando cunhou o termo negritude, o poeta francês Aimé Césaire não tinha como imaginar a distopia do mundo de hoje. Ele pertencia a um movimento estético em defesa das raízes africanas.

E cá estamos, décadas depois da publicação do "Discurso sobre o colonialismo", vivendo a delícia e a dor de a negritude brasileira estar em número recorde no maior reality show do país.

Delícia e dor porque a empolgação inicial com o anúncio de um casting equânime na dualidade negro-branco virou um fenômeno a observar.

A cada dia, o Brazil descobre que o Brasil do Big Brother tem não só uma negritude. Que a negritude é um universo formado por diversas negritudes. Que cada negro é uma negritude em particular. E nenhuma é igual a outra.

Assim como a branquitude vota diferente, sonha diferente e sente diferente, nós, negritude(s), também. E não há problema nisso.

A riqueza está na pluralidade humana. Porque nós, a despeito de um presidente que nos pesa em arrobas, tal qual medem os bois, somos humanos. Temos contradições e coerências. Ambições e arrogâncias.

Talvez enxergar na negritude essa multiplicidade seja um choque pra muita gente branca que insiste em nos perceber tão somente como esquerdopatas em busca de privilégios.

Como se pensássemos todos da mesma forma. Não somos isso. Há negros em todas as matizes políticas.

Até no bolsonarismo, veja só. A gente discorda, erra, acerta, recua e avança. Mas nem todo negro é militante - muito embora nossa presença seja um ato político, de resistência, mesmo que involuntário.

Ademais, nem toda figura pública tem propriedade para ocupar o lugar de fala que reinvindica. O BBB 21 nos prova isso.

Por óbvio que muito ali é performance. O risco de emplacar uma narrativa. Nem sempre dá certo. Às vezes, paga-se um preço maior que R$ 1,5 milhão. Já estamos vendo isso com algumas negritudes.

E o BBB está longe do fim. Mas o fato é que se até a edição passada o programa nos devia em equidade no elenco, a dívida hoje é qualitativa.

Pode ser que a gente leve tempo para reverter um possível prejuízo causado pelo comportamento de alguns participantes negros desta edição. Mas garanto a você, leitor: enquanto isso, no mundo real, muita gente boa, pensante e honesta pratica o antirracismo na luta para esse Brazil conhecer o Brasil.

 

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