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Sabrina Matos: O bruto, Hope, perseverance e a ciência
Opinião

Sabrina Matos: O bruto, Hope, perseverance e a ciência

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Tipo Notícia Por
Sabrina Matos
Psicóloga, psicanalista e professora da Unifor
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Sabrina Matos Psicóloga, psicanalista e professora da Unifor

Durante 12 minutos e 19 segundos, o deputado federal com mais de 90 prisões no currículo, anabolizado com a coprolalia típica dos que se acham acima da lei, fez ameaças à democracia, insultou ministros do Supremo, invocou a volta do AI-5.

Uma cadelinha (batizada como Hope, Esperança) foi atirada do alto de um viaduto da nossa capital. Socorrida, passou por cirurgia, mas não resistiu à tamanha crueldade.

A sonda Perseverance, após 203 dias, pousou em Marte em busca de vestígios de vida no passado do planeta vermelho.

O governador do Estado, amparado pela ciência, decretou toque de recolher e outras medidas sanitárias como estratégias para conter o avanço da pandemia.

Esses quatro episódios comportam o pior e o melhor da condição humana. Os dois primeiros explicitam a falência daquilo que chamamos civilidade. A barbárie, a estupidez e a ignorância do deputado estulto, de trajetória medíocre, deslumbrado e devastado pelo fascínio diante do poder que acredita ser detentor, são nauseantes. Detido, mostrou-se furioso com a policial que o orientava quanto à necessidade de usar máscara. Berrou, xingou, esperneou...e colocou a máscara. O sujeito que jogou a cadelinha certamente é do mesmo time do deputado. Já a chegada da sonda e o decreto apontam para a cooperação e o cuidado, o que nos traz algum alívio nesse mundo irrespirável.

No filme "O homem que caiu na Terra", David Bowie interpretou um personagem que chegava à Terra vindo de outro planeta onde a aridez ameaçava a sobrevivência. Apesar de todo o conhecimento científico, foi derrotado pela brutalidade dos terráqueos. Essa mesma brutalidade, aliada ao individualismo branco dos que só enxergam seus umbigos, pode ser assistida naqueles que vociferaram, contrários ao decreto que visa salvar vidas.

Desde que o nosso País foi entregue ao horror, há exatos 788 dias, somos bombardeados diuturnamente com a insurreição do que há de mais grotesco na esfera da vida pública, mas enquanto houver sol, a esperança e a perseverança são vias para continuarmos a defender a democracia, a vida, a ciência e o que ainda resta de ritmo poético na humanidade. 

 

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