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Exigências éticas à Economia
Opinião

Exigências éticas à Economia

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Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC

A exigência ética primordial é o respeito a todo ser em sua constituição própria de ser. Isto se traduz numa ética de reconciliação universal que requer a ultrapassagem de toda ordem social alicerçada na exploração e na injustiça social e ecológica, focada no objetivo exclusivo de um crescimento ilimitado à custa da extrema exploração da natureza e indiferença frente à pobreza e à miséria humanas. Este horizonte gesta espaço para uma atuação no mundo que tem como incumbência básica restaurar as conexões cortadas com a natureza por nossa civilização técnico-científica articulada enquanto uma economia voltada para o lucro como valor supremo.

Daqui decorre um critério ético primordial para a atuação no mundo: primazia entre os diferentes fins têm aqueles que realizam o respeito à vida humana e à vida dos outros seres vivos. Isso significa que as necessidades materiais básicas, relativas à sustentação e reprodução da vida humana, devem ser objetivos centrais . Aqui se desvela uma contraposição radical à configuração hegemônica da economia no mundo atual, focada no mercado e no lucro. A pressuposição básica é que a propriedade, o controle e a gestão privada e exclusiva dos meios de produção constituem o único modelo natural e racional de configuração da economia, portanto, que são imprescindíveis para a vida e o desenvolvimento humano. No entanto, a satisfação das necessidades materiais, precisamente enquanto remove empecilhos fundamentais para a efetivação das liberdades essenciais da vida humana, possui prioridade em relação a qualquer outro tipo de necessidade no sentido do mínimo exigido. Disto decorre, como consequência, uma exigência ética em relação ao lugar que a economia deve ocupar na vida humana: ela não pode ser fim em si mesma, mas apenas o pressuposto material do desenvolvimento integral do ser humano. Sendo assim, ele deve estar a serviço da satisfação das necessidades básicas, consequentemente, em última instância, a serviço da liberdade de tal modo que o crescimento econômico deve ser meio e não fim último da atividade econômica.

A consequência disto é que a economia não deve ser submetida a um sistema que se supõe funcionar por si mesmo, sem planificação, participação dos cidadãos e regulação a não ser a competição de microentidades isoladas ou simplesmente, como alternativa, ao controle central de uma burocracia administrativa. Na proposta "liberal" hegemônica, o objetivo último é maximizar o próprio interesse corporativo de minorias detentoras do poder, hoje articuladas em formas novas, subordinando coisas e pessoas, reduzidas a simples fatores de produção, à meta da acumulação ilimitada de bens materiais numa estruturação em que o capital é o sujeito de todo o processo. Desta forma, toda a produção é voltada apenas para a geração de lucros, o que desemboca numa espécie de equivalência de todos os bens, materiais e espirituais, sob a medida comum do dinheiro no seio do processo universal de mercantilização. Eticamente, contudo, a economia deve estar a serviço da satisfação das necessidades reais das pessoas na busca de efetivação de relações integralmente humanas. n

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