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Rui Martinho: O animal gregário
Opinião

Rui Martinho: O animal gregário

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Rui Martinho Rodrigues, historiador, professor da Faculdade de Educação da UFC (Foto: Georgia Santiago, em 01/06/2010)
Foto: Georgia Santiago, em 01/06/2010 Rui Martinho Rodrigues, historiador, professor da Faculdade de Educação da UFC

A visão do homem gregário, vivendo na polis, político (Aristóteles, 348 a.C. - 322 a.C.), enfrenta divergências. Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) comparou o gregarismo humano ao do porco-espinho, que se aconchega por necessidade, para sobreviver ao frio do inverno, mas sofre espetadas, sangra e deixa uma trilha de sangue que os lobos seguem. Giovanni Papini (1881 - 1956) apoia o animal político e acrescenta: o gregarismo não se dá só na cidade, mas em múltiplos agregados onde convivemos.

O gregarismo, voluntário ou forçado, sempre acompanha a presença humana. Aos grupos primários dos primeiros tempos, nos quais se estabelecem relações diretas e próximas, informais, como família ou horda primitiva, conforme Sigmund Schlomo Freud (1856 - 1939), na obra "Totem e tabu"; somaram-se os grupos secundários, complexos, com formalidades e distanciamentos nas relações entre os seus integrantes.

Papini ressaltou os lugares das interações gregárias. A fragilização dos grupos ou instituições nas quais o gregarismo se realiza enfraquece a sociabilidade.

A arte penetra, comunica e revela a alma humana. Immanuel Kant (1724 - 1804), considera arte aquilo que expressa em uma singularidade algo de universal. Dona Flor, do romance de Jorge Amado (1912 - 2001), não sabia escolher entre aventureiro e o que representava segurança.

Duas aspirações antitéticas e universais.  associativismo, do porco-espinho nietzscheano ou do bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778), vivem o gregarismo nos diferentes grupos. Estes têm padrões de comportamento, papéis sociais, hierarquia, normatividade. O suspiro de D. Flor pela aventura expressa o sonho libertário.

Este repele a normatividade de todos os grupos. Por isso a pós-modernidade fragilizou família, escola e os laços nestes espaços. A supressão dos controles é confiança no bom selvagem. O desejo de segurança é confiança no Leviatã de Thomas Hobbes (1588 - 1679), antídoto para a natureza feroz. A pós-modernidade liquefez os grupos, mas quer proteção. 

 

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