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Tenho inveja do idiota
Opinião

Tenho inveja do idiota

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Fernando Costa, sociólogo e publicitário (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Fernando Costa, sociólogo e publicitário

Tenho inveja do idiota que enfrenta a pandemia sem máscara, que reúne cinco ou dez amigos para comemorar. Tenho inveja do idiota passeando na beira-mar, olhando o pôr do sol. Ah como eu invejo o idiota esférico transbordando felicidade numa mesa de bar, cercado de outros idiotas. Eu não sei quando, mas em algum momento da minha vida eu cometi um erro crasso e fui expulso do país dos idiotas.

O fato é que eu estou saudável, mas infeliz, se é que é possível estar saudável e infeliz. Na verdade, estamos todos doentes, nós, os idiotas e os que

estão superlotando os hospitais, boa parte desses por responsabilidade do idiota que aglomera, mantendo todas as regras de segurança, máscara no bolso, álcool em gel sobre a mesa e pertinho dos amigos. "Apesar de tomar todos os cuidados, fui diagnosticado com covid", essa é a declaração padrão do idiota contaminado.

Sem vacinas, por responsabilidade exclusiva do presidente da República, com novas cepas do vírus, estamos entregues a má sorte, a roleta gira e não é mais um número, agora é sempre um nome e todo dia eu tenho medo de que seja o seu, porquê se for o meu o silêncio eterno, mas você vai me fazer uma falta inenarrável, quantas histórias ficaram sendo repetidas na minha mente, quanta dor meu coração pode suportar com a sua ausência para sempre.

Temos que frear o ímpeto, o sorriso abundante e a falta de vergonha na cara do idiota a qualquer custo. Do idiota na presidência e do idiota no ministério da saúde. Temos que frear a idiotice do

empresário que pensa em salvar seu negócio expondo funcionários e clientes. Mas algo precisa ser feito, sim precisamos pressionar o governo federal a comprar vacinas e deixar o SUS trabalhar. Só as vacinas podem por fim à pandemia para que, com máscaras e coragem, possamos ir às urnas derrotar a extrema direita em 2022.

Eu estou cansado de estar dentro de casa, de não poder abraçar meus amigos, de beber sozinho, de quase não ver meus filhos e minhas irmãs, estou indignado com a morte de mais de mil brasileiros por dia. Do jeito que as coisas andam, vou acabar tendo que acreditar em Deus. n

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