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Antonio Jorge Pereira: Solidariedade silenciosa
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Antonio Jorge Pereira: Solidariedade silenciosa

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Antonio Jorge Pereira Júnior, doutor e mestre em Direito - USP, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Antonio Jorge Pereira Júnior, doutor e mestre em Direito - USP, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor

Amanhã é festa de São José, em ano dedicado a ele, segundo dispôs o papa Francisco na carta Patris Corde, Coração de Pai. O padroeiro do Ceará é fiel intercessor para a chuva e para outras necessidades. É prestativo e discreto.

A lembrança serve para evocar a solidariedade de tantos que se doam ao próximo sem que o beneficiário sequer saiba sua identidade.

Nesses tempos duros há muita solidariedade oculta. Sou testemunha privilegiada disso. Três vezes com a Covid recebi plasma convalescente, material sanguíneo de pessoas curadas que produziram anticorpos contra a doença.

Sofro inibição na produção de anticorpos por tratamento recente para linfoma. Sem o plasma não sou curado. Ainda é provável que necessite de outras aplicações, em razão da fragilidade imunológica.

Toda a situação me permitiu tomar contato com a generosidade de milhares de pessoas. Penso agora especialmente no plasma que recebi: não sei e não saberei de quem era. Onde estarão? Um dia, no além, quem sabe possa abraçá-los e lhes agradecer.

Antes, fui submetido a outro tratamento, denominado imunoglobolina. Deram-me um coquetel de anticorpos na veia, em sessões de 5 horas, por 5 dias seguidos. O medicamento é produto de incontáveis doadores: novamente, materializa a solidariedade oculta.

Em um período de 8 meses, entre idas e vindas, estive 60 dias hospitalizado no Monte Klínikum. Ali se notava uma solidariedade discreta, para além do dever de ofício.

Por trás das máscaras se divisava sorriso sincero de médicos, enfermeiras e técnicos, fisioterapeutas, maqueiros, equipe administrativa, pessoal da limpeza e nutrição. Pouco antes do diagnóstico da segunda Covid, passei ali a noite de Natal.

Situação atípica, mas comum a tantos. Notava-se o carinho nos detalhes do jantar especial. No dia 25 levaram um artista ao quarto para tocar uma canção natalina. A longa convivência facilitou que eu fosse chamado pelo nome sempre que voltei ao hospital para nova internação.

Infelizmente não consegui reter o nome de todos - a Covid afeta algo da memória. Mas sempre os guardarei no coração.

Que São José, Mestre do serviço silencioso, abençoe a todos neste dia. n

 

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