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"Pior do que a gente imaginava"
Opinião

"Pior do que a gente imaginava"

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 Plínio Bortolotti (Foto: Camila de Almeida/O POVO)
Foto: Camila de Almeida/O POVO Plínio Bortolotti

"Bolsonaro era pior do que a gente imaginava, não teve como as reformas avançarem", lamentou Gustavo Franco ao analisar a dificuldade de o ministro da Economia, Paulo Guedes, implementar a sua agenda liberal. Franco, presidente do Banco Central nos governos de FHC, fez a avaliação no programa Roda Viva, da TV Cultura (22/3/2021) .

Quase ao mesmo tempo — sem que uma coisa tivesse ligação com a outra — era divulgada a "Carta Aberta à Sociedade Referente a Medidas de Combate à Pandemia", assinado por nomes que representam expressiva parcela do PIB brasileiro: empresários, banqueiros, economistas, ex-ministros e ex-presidentes de Banco Central.

O documento já conta com mais de 1.500 assinaturas — mas até onde pesquisei não consta o nome de Franco — e faz uma duras advertências ao governo a respeito da má condução do Palácio do Planalto em relação às medidas de enfrentamento à crise sanitária, sem citar uma única vez o nome do presidente da República, Jair Bolsonaro.

Um dos trechos: "O desdenho à ciência, o apelo a tratamentos sem evidência de eficácia, o estímulo à aglomeração, e o flerte com o movimento antivacina, caracterizou a liderança política maior no país".

Mas se Gustavo Franco não firmou o documento, o que liga a declaração dele à carta-manifesto de personalidades de relevo na economia brasileira?

Provavelmente a maioria ou uma grande parte dos que assinaram o manifesto ajudaram a eleger Bolsonaro, pois a outra opção era o demonizado Partido dos Trabalhadores, ainda que o candidato fosse Fernando Haddad, no máximo um social-democrata. E o PT, desde a Carta aos Brasileiros, é um partido centro-esquerda, propondo-se apenas a corrigir os aspectos mais obscenos do capitalismo, sem intenção nenhuma de destruí-lo.

No entanto, a elite brasileira achou que deveria agarrar-se a qualquer um para derrotar o petismo, mesmo que fosse um capitão rastaquera, que já havia dado provas acabadas de sua personalidade instável e autoritária. A má-fé cegou-os.

Agora, com o caos sanitário instalado, a elite quer dar um passo atrás, horrorizada com a monstruosidade que ajudou a cevar, pois a criatura tornou-se "pior" do que foi combinado a troco das "reformas". n

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