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Regina Ribeiro: A censura que Bolsonaro já trouxe de volta
Opinião

Regina Ribeiro: A censura que Bolsonaro já trouxe de volta

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Regina Ribeiro, jornalista do O POVO (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Regina Ribeiro, jornalista do O POVO

Há cerca de 10 dias uma professora de uma universidade pública reuniu seu grupo de pesquisa e anunciou: "Vamos retirar dos artigos destinados a revistas nacionais e internacionais qualquer referência ao governo federal e à pandemia, qualquer crítica a Jair Bolsonaro ou citação do nome do presidente".

Os doutorandos ficaram perplexos. Um dos artigos já aceitos numa publicação da área abordava o empreendedorismo feminino e alertava sobre a situação das mulheres negras que é ainda mais dramática do ponto de vista econômico, devido à pandemia. Uma revisão do artigo teria de ser feita para suprimir o trecho que trazia à tona a pandemia.

Durante a conversa, a reação dos alunos foi a de tentar entender o que estava acontecendo. A professora foi clara: Não se sentia "segura", temia "perseguições" internas e pior, ataques externos por meio das mídias sociais. "Tenho duas filhas em idade escolar, preciso preservar a mim e a minha família".

Um dos pesquisadores do grupo partilhou comigo a situação. Triste, lembrou-se de outro artigo que apresentou em um encontro nacional em 2020, onde abordou a liberdade de cátedra em universidades públicas.

O artigo concluiu que a polarização política vigente no Brasil nos últimos anos instalou nas salas de aula algum tipo de "auto monitoramento" por parte dos docentes que afirmaram, entre outras coisas, "temer atos de violência".

As liberdades de expressão, um dos pilares da sociedade democrática, estão sob a mira do governo de Jair Bolsonaro. Esse fato não é apenas sentido pelos professores universitários como a professora que proibiu uma simples menção ao nome do presidente em artigos acadêmicos orientados por ela.

O Relatório Global de Expressão 2019/2020 publicado pelo Artigo 19, semana passada, concluiu que o mundo democrático está doente, para além da pandemia. O Brasil está duplamente grave. O Relatório informa que nossa liberdade de expressão está "em declínio acentuado e acelerado".

Terça-feira, o novo ministro da Defesa do Brasil, general Braga Neto, afirmou em nota que o movimento militar de 1964 e sua história devem ser "compreendidos e celebrados". A compreensão do que significou a ditadura militar no Brasil se expande com pesquisa - atualmente sob ataque - e arte - em estado de abandono. Quanto a celebrar, não é possível comemorar censura, tortura, prisões e mortes. 

 

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