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Cleto Pontes: Hipócrates ainda chora
Opinião

Cleto Pontes: Hipócrates ainda chora

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Cleto Brasileiro Pontes, psiquiatra e escritor (Foto: Rodrigo Carvalho, em 11/09/2008)
Foto: Rodrigo Carvalho, em 11/09/2008 Cleto Brasileiro Pontes, psiquiatra e escritor

Chorar não é uma prerrogativa dos simples mortais se considerarmos os imortais sempre presentes na história da humanidade. Ao ressuscitar Lázaro, Jesus chorou em Betânia na presença das irmãs Marta e Maria, talvez intuindo que o seu dia não tardaria.

Nietsche chorou em Turim, na Itália, no exato dia de Natal quando ele enroscou sua cabeça à de uma cavalo que sofria açoite do cocheiro. A partir daí, ele perdeu a razão e nunca mais a encontrou.

No mesmo ano, deixou a cátedra de filosofia para se tornar um "vagabundo", ou seja, um a vagar no mundo, anunciando que seria um personagem conhecido da história. Foram as suas obras que o consumiram, como Zaratustra e o Anticristo? Ou seria um Messias prenunciando a tecnologização do mundo?

Hipócrates (460 a.C e 377 a.C), de origem de família abastada, nasceu em Cós e morreu em outra ilha, Larissa. Assim como Buda nasceu para peregrinar e defender o hinduísmo, Hipócrates nasceu para a medicina, a sua arte terapêutica, tornando-se o pai da medicina.

Hipócrates era um naturalista por essência, como as outras espécies animais, que ao romper com o mimetismo, passou a teorizar. Ele e seus contemporâneos, como Sócrates e Demócrito, modernizaram a língua grega, escrevendo alguns livros baseados em observações, um deles foi Epidemia.

Na época ele não poderia usar a palavra pandemia porque o mundo ainda não era globalizado, não havia acontecido o fenômeno Cristo e muito menos as grandes navegações. Mesmo assim, atribuía as epidemias aos hábitos alimentares, ao ar, ao meio ambiente e à questão racial.

Ficaria escandalizado ao botar os pés na cidade de Wuhan, China, em 2019, pasmo com a discrepância entre os sistemas político ditatorial e o econômico desmantelado: sem preocupação com o ar, o sistema alimentar, e numa encruzilhada racial.

Ele teria previsto uma queda catastrófica no sistema de saúde e que ocorreria no mundo o caos. Mas ele choraria de verdade ao visitar o Brasil, vários meses depois, com mais de trezentos mil mortos na pandemia e que logo chegaria a meio milhão.

Na sua indignação, blasfemaria em palavras do grego arcaico: Pharmak, Pharmak, ou seja, bode expiatório, pois os seus ancestrais sacrificavam humanos para magicamente acabar com a epidemia. Moral da história, é do veneno que se faz grandes remédios.

Para manter a saúde coletiva é sempre bom fazer esta articulação, a fim de evitar as intoxicações, atualmente disseminada em fakes news. Por que os governantes esqueceram o significado de democracia e tentam impor o negacionismo?

A ciência e a política são atividades complementares e não antagônicas. A dialética não pode ser assassinada. Ao final de todo esse pesadelo, o Brasil entrará no guinness book, recorde em mudanças de staff ministerial e assessores em apenas 2 anos e meio de governo.

Por que o governante deste País não leu o livro do Maquiavel, o Príncipe? Na Idade Média já se sabia que não adianta bons assessores quando um príncipe é medíocre. 

 

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