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As vacinas e a conduta vergonhosa do Brasil
Opinião

As vacinas e a conduta vergonhosa do Brasil

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 Plínio Bortolotti (Foto: Camila de Almeida/O POVO)
Foto: Camila de Almeida/O POVO Plínio Bortolotti

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, surpreendeu o mundo ao anunciar sua disposição em apoiar a quebra de patentes de vacinas contra a Covid-19. Biden rompe assim com uma política, própria dos países ricos, que defendem patentes com unhas e dentes, pois isso interessa aos seus negócios.

A ironia é que em outubro do ano passado a Índia e a África do Sul apresentaram na Organização Mundial do Comércio (OMC) proposta de suspender as patentes das vacinas contra o coronavírus enquanto persistisse a crise sanitária. A proposição ganhou o apoio de cerca de 100 países em desenvolvimento. Um possível acordo sobre o assunto foi então bloqueado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, impedindo qualquer possibilidade de a medida ser implementada.

O Brasil juntou-se ao bloco dos ricos para demonstrar sua subordinação à política externa dos Estados Unidos, na época sob o governo de Donald Trump, ídolo do presidente, Jair Bolsonaro. Isso custou ao País a má vontade da Índia em vender vacinas para o governo brasileiro. Na tentativa de consertar o estrago, o Brasil evitou manifestar-se novamente sobre o assunto nas reuniões da OMC, mas sem refazer a posição inicial.

A ironia é que os dois países, Brasil e EUA, abandonaram sua política histórica em relação ao assunto. Enquanto os Estados Unidos evoluíram para uma posição humanista, aproximando-se dos países em desenvolvimento, o Brasil retroagiu em sua política, voltando às costas para os seus iguais.

É certo que Biden tomou a decisão pressionado pelo seu próprio partido e por países emergentes, que dependem da quebra de patentes para ter acesso aos imunizantes. Deve ter pesado também a impossibilidade de conter o vírus na fronteira de cada país. Assim, enquanto houver nações com a pandemia descontrolada, o risco é de todo o mundo. Porém isso não retira a importância da decisão tomada por Biden, um alento para os países com poucos recursos.

Quanto ao Brasil, mais uma vez passamos vergonha no débito e no crédito na arena internacional, por responsabilidade de um governo que trabalha com afinco contra os interesses de seu próprio País. n

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