Logo O POVO+
Sabrina Matos: Meet.com.afeto
Opinião

Sabrina Matos: Meet.com.afeto

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Sabrina Matos, psicólogca (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Sabrina Matos, psicólogca

Em um tempo de guerra e morte, mais um semestre letivo se aproxima do final e as experiências, as narrativas e as aprendizagens explicitaram que o vínculo professor-aluno, sustentado por uma ética civilizatória (que preconiza o isolamento social como estratégia para a diminuição do contágio da Covid), pela utilização da tecnologia da comunicação (com as aulas remotas), e fundamentalmente, por uma arquitetura do afeto, se ancora na escuta, nos gestos, nos olhares, mas também nos silêncios.

Diante de tantas metamorfoses e de um tempo de predomínio da estética do desaparecimento, do cancelamento, de processos de vida acelerados, esvaziados, diante do caráter movediço e incerto da pandemia é no presente de cada dia e de cada aula que "buscamos encontrar um rumo, por mais leve que seja, para lidarmos com a aflição", como disse Freud em "Reflexões para os tempos de guerra e morte".

Se o real, esse obstáculo ao princípio do prazer, tem se mostrado sem interdição, a delicadeza tem sido a tessitura que irriga o vínculo em sala de aula capilarizando a vida acadêmica de professores e alunos, fazendo brotar novas narrativas.

E quão tocantes têm sido as narrativas! De dor, de sofrimento, de medo, mas também de descobertas, de aprendizagens, de resistência!

Lembro do escritor argentino Ernesto Sábato e seu livro "A Resistência". Dizia ele "quando somos sensíveis, quando nossos poros não estão tapados pelas implacáveis camadas, a proximidade da presença humana nos sacode, nos anima, entendemos que é o outro que sempre nos salva.

E se chegamos à idade que temos é porque outros foram salvando nossa vida, incessantemente. Com a idade que tenho hoje, posso dizer, dolorosamente, que toda vez que perdemos um encontro humano uma coisa se atrofiou em nós, ou se quebrou".

Se momentaneamente perdemos a possibilidade do encontro presencial, ganhamos a riqueza de descortinar o novo, de colorir a falta e, assim, sustentarmos a esperança.

Dedico este artigo a todos os meus alunos que se recusam a aceitar o avanço da barbárie e o embotamento da sensibilidade. Que possamos juntos continuar a cultivar o apego e o desejo de um mundo melhor e mais justo. n

 

O que você achou desse conteúdo?