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Gabriella Bezerra: De volta para o futuro
Opinião

Gabriella Bezerra: De volta para o futuro

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Nos últimos dias, assistimos a indecisão do PSDB de ser oposição ao Governo Bolsonaro e de aderir ao pedido de Impeachment do presidente. A sigla foi central na argumentação do crime de responsabilidade da presidenta Dilma, convocando o jurista Miguel Reale Jr., ex-petista e vitorioso no pedido de Impeachment de Collor.

A situação é interessante: as ações da presidenta Dilma não indicavam crime de responsabilidade robusto, o que exigiu uma elástica argumentação; já Bolsonaro tem crimes de responsabilidade de sobra, praticamente, desde o princípio. Mas ainda assim, o processo não é aberto e não ganha força.

Como analista política, o desafio é explicar o distinto tratamento nos dois casos. Não apenas do comportamento do PSDB, já que o partido hoje não é uma sigla forte no Congresso Nacional, mas do sistema político como um todo.

Rapidamente, temos a narrativa que afirma que Dilma sofreu um golpe e que agora, o Impeachment não sai por conta do favorecimento aos 'inescrupulosos' parlamentares do Centrão e do medo do retorno de Lula. Mas proponho um exercício que se desloca dessas explicações.

Da mesma maneira que algumas pessoas encaram a pandemia como um desvio na rota da vida, ou seja, acreditam que voltaremos ao que era antes e que esses anos serão esquecidos e ignorados, o movimento "Fora Bolsonaro" pode querer imaginar (e muitos imaginam) que sua saída nos possibilitará o retorno ao ponto de ruptura, para assim recuperarmos a rota correta.

Diferentemente de Dilma, Bolsonaro não acumula um desgaste de 13 anos de governo petista. Além disso, o vice, Temer, era um puro representante do sistema político, experiente e respeitado. Ademais, Dilma não foi eleita por comoção e pela força de sua liderança e projeto.

Para o cenário de hoje, a ruptura não significaria apenas a organização de um governo 'tampão', como diziam de Temer, mas ignorar um movimento político que tem em Bolsonaro a sua representação.

O crime é claro, mas um Impeachment não dissolve a força das ideias que levaram a decisão eleitoral de 2018.

 

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Gabriella Bezerra

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