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Leila Paiva: Somos um país que mata mulheres
Opinião

Leila Paiva: Somos um país que mata mulheres

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A violência contra a mulher não é um tema da atualidade, é resultado de uma construção histórica e se é assim, cabe a nós desconstruí-la.

De acordo com a Pesquisa Violência Doméstica e Familiar realizada pelo Observatório da Mulher contra a Violência do Senado, que ouviu mulheres de todo o Brasil, 71% delas considera o Brasil muito machista, e elas estão certas. Em números absolutos, nosso país é um dos que mais mata mulheres no mundo.

Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicado no início de julho/2021, aponta que um quarto das mulheres entrevistadas relataram ter sofrido violência física, sexual ou verbal nos 12 meses anteriores. Os dados indicam ainda que 9 em cada 10 mulheres vítimas de feminicídio morreram pela ação do companheiro, do ex-companheiro ou de algum parente.

Qualquer que seja a forma assumida pela violência, o regime de gênero desequilibra as relações de poder em prejuízo das mulheres, por torná-las mais suscetíveis às injustiças socioeconômicas, políticas ou culturais e, desse modo, privá-las de seus direitos.

Mesmo com o avanço legal os dados são assustadores. Parece inconcebível que o país que produziu dois grandes marcos normativos - A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio - para o enfrentamento desse tipo de violência, continue esse massacre contra suas mulheres.

Alterar o contexto social que constrói ambiência para uma masculinidade tóxica pressupõe necessárias transformações nas relações entre homens e mulheres. O modelo de masculinidade que foi elaborado com características tão violentas não será vencido apenas com imposição legal. É inadiável contar com a mobilização de homens e mulheres, que também se sentem oprimidos pelo modelo que lhes foi imposto, para mudar essa realidade.

É impossível vencer um fenômeno com tais proporções sem o engajamento de todos e todas. É preciso falar amplamente sobre o tema, impulsionar os processos de responsabilização dos culpados, efetivar políticas públicas estruturadas para o apoio às vítimas e, sobretudo, chamar toda a sociedade para a responsabilidade sobre os índices de violência de gênero que ainda afronta o Brasil com proporções vergonhosas. Não é possível o Brasil achar que mulheres nascem para morrer. n

 

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Leila Paiva

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