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Fabiano dos Santos Piúba: Conceição Evaristo na ABL
Opinião

Fabiano dos Santos Piúba: Conceição Evaristo na ABL

A ABL tem 40 cadeiras com seus respectivos patronos, fundadores e sucessores. Bem que se poderia criar a cadeira 41, tendo como patrona Carolina Maria de Jesus e como fundadora Conceição Evaristo
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Sem preâmbulos. Conceição Evaristo para a Academia Brasileira de Letras - ABL. E não precisaria, necessariamente, de uma nova vacância.

A ABL tem 40 cadeiras com seus respectivos patronos, fundadores e sucessores. Bem que se poderia criar a cadeira 41, tendo como patrona Carolina Maria de Jesus e como fundadora Conceição Evaristo com sua obra de excelência literária e de interpretação do Brasil. De um Brasil profundo que conjuga o verbo escrever, viver e se ver na "escrevivência" de Conceição Evaristo.

O conjunto de sua obra é um tesouro nacional expresso em seus romances, contos e poemas. Em sua voz e fala, em seu corpo e espírito. Seus romances "Ponciá Vicêncio" e "Becos de Memória" são obras das mais substanciais de toda a história da literatura brasileira, tal "Quarto de Despejo" de Carolina Maria de Jesus.

Conceição é lida por pessoas de todas as idades. E lida com vigor por uma geração de gente jovem reunida nas universidades, saraus e festivais literários. Seus escritos são plenos de ancestralidade orgânica e potência contemporânea marcados por um corpo coletivo e solidário.

Sua literatura instiga a moçada a escrever seus próprios poemas porque sua poesia inspira outras poetas que respiram. Sua literatura pulsa um Brasil potente que escreve suas próprias histórias. Sua literatura é um liame vivo entre os tempos ancestrais, os de agora e o porvir. Sua arte mobiliza e nos põe em estado de reflexão e de ação, semeando um tempo de aquilombar.

Portanto, sem mais delongas, Conceição Evaristo como membro da Academia Brasileira de Letras, podendo ser fundadora de uma cadeira própria, tendo como patrona Carolina Maria de Jesus. Seria uma vitória da ABL, uma consagração da diversidade brasileira e uma glória de nossa bibliodiversidade.

Seria uma dupla celebração na festa mais bonita jamais vista na ABL. Machado de Assis e Carolina Maria de Jesus sambariam no terreiro até o sol raiar com todas as letras do Brasil, incorporando suas ancestralidades afro-brasileiras, enquanto Gilberto Gil organizaria o Baticum para a alegria de Conceição e da nação brasileira. Vambora, pois já ouço os passos de Ailton Krenak, Davi Kopenawa e Daniel Munduruku chegando no salão. n

 

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Fabiano Dos Santos Piúba

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