Nos últimos anos, uma frase tem se repetido em diferentes contextos: "Será que meu trabalho vai deixar de existir?".
A velocidade com que a Inteligência Artificial (IA) se insere no nosso dia a dia causa admiração e inquietação. Para quem, como eu, transita entre os gráficos da Economia e a escuta da Psicologia, fica evidente: estamos vivendo uma transição que vai além da tecnologia, é cultural, emocional e profundamente humana.
Economicamente, a IA traz promessas de eficiência e corte de custos. Mas o que nem sempre observamos com o mesmo foco é o impacto subjetivo desse avanço.
Nos atendimentos clínicos e conversas com profissionais multidisciplinares, percebo o aumento da ansiedade diante da incerteza. O medo não é só do desemprego, mas de não conseguir acompanhar, de não ter tempo ou energia para se reinventar. De perder o sentido que o trabalho carrega.
Quando o medo encontra o silêncio, porque ainda é tabu falar sobre isso, surgem a sobrecarga emocional, o sentimento de inadequação, o esgotamento. A IA, por si só, não causa isso. Mas a forma como é inserida nas organizações, sim.
Também há oportunidades. Ferramentas que automatizam tarefas repetitivas podem abrir espaço para o que é mais humano: escuta, criação, cuidado, decisões éticas. Mas isso só acontece quando a tecnologia está a serviço das pessoas e não o contrário.
Nosso desafio coletivo é equilibrar inovação com cuidado, performance com saúde, progresso com propósito. Para isso, são necessárias lideranças empáticas, transições justas e espaços onde trabalhadores sejam vistos como mais que funções.
Como alguém que acredita que o valor do trabalho vai além dos resultados financeiros, sigo apostando na possibilidade de um futuro onde humanos e máquinas convivam em harmonia, mas onde o que nos torna humanos nunca deixe de ser o centro.