Ao longo das últimas décadas, em diferentes países da América Latina, há a tentativa de vincular o crime organizado com práticas consideradas terroristas. Desde o início do século XXI, muitas destas tentativas têm a ver com a intenção dos Estados Unidos de se imiscuir em temas de política interna dos países latino-americanos e caribenhos. Porém, também devemos prestar atenção para como o termo narcoterrorismo vêm sendo instrumentalizado pelas elites nacionais dos países da nossa região com diversas intencionalidades.
Em 2003, ainda sob o impacto dos atentados terroristas do 11 de Setembro de 2001, a Organização dos Estados Americanos (OEA) emitiu uma declaração conjunta, que classificava como novas ameaças à segurança dos países do continente o "terrorismo, crime organizado transnacional, o problema global contra as drogas, corrupção, lavagem de ativos, tráfico ilícito de armas, e as conexões entre eles".
Este documento, conhecido como Declaração da Cidade do México, foi uma das articulações feitas pelos EUA para mobilizar países do mundo em sua guerra global contra o terrorismo. Porém, encontrou eco em uma região acostumada a chamar de "terroristas" ou "subversivos" indivíduos que consideram uma ameaça à sua ordem social.
Ao longo daquela década, diferentes iniciativas promovidas pelos EUA na América Latina buscaram enquadrar o narcotráfico como questão mais relevante para a segurança da região. O Plano Colômbia, plano de assistência militar à Colômbia em seu conflito interno contra grupos paramilitares de direita e de esquerda, teve início em 2000 e acabou no ano de 2015. Neste conflito, pode-se considerar que ao longo dos anos 1980 houve ataques de caráter terrorista, com a intenção de impactar a sociedade por meio do medo, por parte de grupos ligados a Pablo Escobar.
Também no caso das sucessivas iniciativas realizadas entre EUA e México, houve a tentativa de enquadrar grupos narcotraficantes como grupos terroristas. Durante o governo de Felipe Calderón, entre 2006 e 2012, diferentes cartéis de droga foram identificados como grupos terroristas em razão da sua ação violenta. Mais recentemente, a partir deste ano de 2025, o governo dos EUA denominou diferentes cartéis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras ou globais.
A questão da violência causada pela atuação de grupos narcotraficantes - e pelos governos que buscam combatê-los não com inteligência, mas com força - é um elemento marcante da América Latina. O uso desenfreado da força, porém, cria um ciclo de violência e vingança que prejudica sobretudo a população dos nossos países. Ativar o termo narcoterrorismo não deve ser algo feito em vão.