O problema não é novo. Desde a década de 1980 já se registravam notícias sobre traficantes controlando territórios na cidade do Rio de Janeiro. Naquele período, a principal atividade criminosa era o tráfico de drogas. Com o passar do tempo, porém, essas notícias deixaram de se restringir à capital fluminense e passaram a se espalhar por diversos estados brasileiros. Hoje, o crime organizado se tornou um desafio nacional.
Se, no início, o comércio de entorpecentes era a principal fonte de renda dessas organizações, ao longo dos anos novas formas de atuação surgiram. Além do tráfico, os grupos criminosos passaram a realizar assaltos a bancos e, mais recentemente, a controlar atividades lícitas, como a venda de gás, o fornecimento de internet, os serviços de mototáxi, o transporte alternativo e diferentes tipos de comércio local.
O crime organizado não sobrevive apenas do tráfico, mas do domínio de territórios e da apropriação de atividades econômicas legais. Não é exagero afirmar que ele está imerso na dinâmica econômica.
As organizações criminosas dependem do Estado para existir e, cientes disso, procuram capturar atores estatais. Assim, garantem proteção institucional e ampliam seu poder de influência. Infelizmente, quem deveria combater o crime, em muitos casos, acaba colaborando com ele.
Vivemos, hoje, o que se pode chamar de tempestade perfeita, formada por uma tríade fatal: o controle de territórios, a captura do Estado e o domínio de atividades comerciais lícitas por grupos criminosos. Não é exagero afirmar que, em algumas regiões do país, esses grupos expulsaram o Estado e passaram a exercer suas funções.
O enfrentamento ao crime organizado não deve ser contaminado por disputas ideológicas. Todos reconhecem que o problema é grave e exige ações imediatas dos governos estaduais e do governo federal, e, em muitos casos, também dos gestores municipais. É fundamental que os diferentes níveis de governo dialoguem e cooperem entre si, com a mesma eficiência e articulação com que o crime organizado opera.
O que ocorreu recentemente no Rio de Janeiro não pode ser esquecido. Deve permanecer na memória dos governos, da imprensa e da sociedade. O esquecimento seria o maior aliado das organizações criminosas, que continuariam avançando, conquistando novos territórios e, o que é mais grave, novos espaços dentro do próprio Estado e da vida econômica legal.
O combate ao crime organizado requer união, coordenação e compromisso de todos aqueles que não admitem que o crime se sobreponha ao Estado. Essa é uma luta que não pode ser adiada e nem perdida.