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financiamento: Crime em Dafur
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Opinião

financiamento: Crime em Dafur

Novamente o Sudão vive uma crise humanitária que acumula massacres, torturas e execuções de civis em uma região já devastada pela fome, espalhando recessão aos já muito fragilizados países vizinhos
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Juliana Monteiro (Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Juliana Monteiro

A última capital dos cinco estados federais da região de Darfur ainda controlada pelo exército regular sudanês, El Fasher caiu nas mãos do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAO). Desde o começo do ano, as FAO impunham um cerco à região, e agora, são donos de toda o vasto oeste do Sudão.

No meio de tudo, uma população que há mais de duas décadas enfrenta conflitos sangrentos, cujas violações geram pouquíssimas manchetes diante das outras guerras que tomam atenção do Ocidente, como a questão da Palestina e da Ucrânia.

A milícia, formada em 2013 sob o comando do próprio órgão do governo sudanês de Inteligência e Segurança com o intuito de combater insurgências antigovernamentais, participou de assassinatos, massacres étnicos, torturas, desaparecimentos forçados, violência sexual e muitos outros crimes que resultaram na morte de cerca de 300.000 pessoas.

O conflito de Darfur, como ficou conhecido, foi o primeiro a ser encaminhado pelo Conselho de Segurança da ONU ao Tribunal Penal Internacional por meio da Resolução 1593 de 2005, culminando com a emissão de mandados de prisão para Omar al-Bashir - então presidente do Sudão - e outros líderes, como Ali Kushayb - um comandante da FAO - por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio.

Desde 2023, a milícia liderada por Mohamed Hamdan Dagalo (o "Hemetti"), entrou novamente em conflito com as Forças Armadas do Sudão para tomar controle do país, causando o deslocamento forçado de mais de 13 milhões de pessoas e mergulhando metade da população em insegurança alimentar.

Novamente o Sudão vive uma crise humanitária que acumula massacres, torturas e execuções de civis em uma região já devastada pela fome, espalhando recessão aos já muito fragilizados países vizinhos, como o Sudão do Sul. Lá, mais de um milhão de pessoas fugindo da guerra se juntaram às quase 6 milhões de pessoas - cerca de metade da população - que sofrem de fome aguda, com pouco acesso a água potável ou saneamento, segundo a Oxfam.

O World Food Programme se mobilizou fornecendo assistência emergencial de alimentos e dinheiro a refugiados que fugiram para sete países vizinhos, no entanto, cortes de financiamento retiraram o apoio humanitário justamente quando ele mais é necessário, forçando os programas a diminuírem significativamente, enquanto número de pessoas que precisam de apoio dispara.

A continuidade da assistência alimentar pode parar nos próximos meses, à medida que os recursos se esgotarem. Se falta apoio da comunidade internacional aos trabalhadores humanitários e à população, sobram recursos às FAO, que controlam boa parte das minas de ouro sudanesas.

Sem estrangular o financiamento do grupo, o que envolve dificultar a exportação do minério para países como Emirados Árabes e Rússia, não há perspectiva de melhora.

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