De uma hora para outra, a Cidade ficou silenciosa. Da minha janela, uma voz ao longe, algum ruído, mas quase sempre silêncio. Os tempos pedem reclusão, calma. Não estou acostumado a tanto silêncio, mas estou tendo que ouvi-lo com atenção. Logo, dedico este texto ao silêncio. Curiosamente, ele está na música. É intercalando sons e silêncios de instrumentos que se constrói um arranjo.
E há arranjos que valorizam esses silêncios. Muitas vezes uma pausa grita mais que o mais estridente dos instrumentos. Em Cuide Bem do Seu Amor, os Paralamas do Sucesso usam isso muito bem. Nos shows, antes de cantarem o refrão pela terceira vez, a banda para, as luzes da plateia se acendem e é ela quem solta essa mensagem de cuidado e afeto. É um intervalo de menos um segundo, mas que diz tudo.
Já em Quase um Segundo, Herbert Vianna explorou o que pode da beleza dos silêncios. Afundado por ter se separado de Paula Toller, ele cristalizou as tristezas numa balada feita com voz, violão e piano (de Charly Garcia). Um acorde, uma pausa, um acorde, uma pausa, como quem precisa organizar ideias antes de dizer o que está engasgado. Em cada intervalo, uma pá de areia sobre o relacionamento que acabava.
Uma vez conversei com Leny Andrade sobre sua interpretação de A Ilha, canção de Djavan. Acompanhada apenas do piano de César Camargo Mariano, nossa diva bossa nova vai fundo nos graves e chega ao coração da melancolia. Como quem perde o fôlego, respiração ofegante, ela arfa cada frase, buscando espaço entre os silêncios. Resumi esta leitura e Leny me arregalou os olhos perguntando: "você gostou?". Como não?
E há muita tristeza no silêncio de Elis Regina. No disco Saudade do Brasil, antes de buscar um mundo novo, ela canta Sabiá lapidando cada sílaba. A voz trêmula pedia o retorno daquela força que ia embora com o casamento e com um Brasil teimoso em querer ser livre. Mas é nos silêncios desse Sabiá que se esconde a esperança. Tanto que ela tira ar das carnes para avisar num agudo que não foram em vão tantos planos. Há um intervalo depois. Rápido, mas que vale pela mais bela das notas musicais.
Estado violência
Berg Menezes lançou na quarta-feira, 25, o clipe da música Sangrar, do álbum Qual é a Sua Revolução? (2018). Com imagens tão fortes quanto as guitarras, a parceria com o percussionista Artur Guidugli fala sobre as violências naturalizadas em muitas mentes. "A letra é um discurso direto da fala do opressor, do violentador, do torturador que no decorrer do texto percebe que fazer sangrar não vai resolver sua dor interior", explica Berg.
Ao mestre
Assumida discípula de Jorge Benjor, Fernanda Abreu dedica seu novo single ao mestre do suingue. Do Ben, é uma parceria com Pedro Luis e leva o mesmo nome de outra homenagem a Benjor, feita pelo Skank em 1998. A base do single é feita pelo coletivo Grooveria, de Tuco Ferraz, namorado de Fernanda, e a capa faz referência ao álbum de Benjor lançado em 1969, com sucessos como Cadê Teresa e Que pena. Do Ben já está disponível nas plataformas digitais.
Requentando
Primeira música do primeiro disco dos Titãs, Sonífera Ilha ganhou nova versão após 36 anos. A faixa volta agora como o primeiro single do novo projeto que a banda, resumida a um trio, lança em abril com o registro desse momento mais intimista e maduro. Mas o melhor da nova versão está no clipe divertidíssimo que conta com participações de Rita Lee, Fernanda Montenegro, Fábio Assunção, Elza Soares e outros.