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A tempestade perfeita se completa

2017-05-25 01:30:00

Os protestos de rua adicionam um ingrediente explosivo à já volátil situação do presidente Michel Temer, cujo futuro será decidido no dia 6 de junho, em julgamento que começa no TSE. A praça de guerra em que se transformou Brasília ontem tem inegável vínculo com partidos de esquerda, é verdade. Houve quebradeira, o que é ruim para a agenda das eleições diretas, se é o que essas siglas defendem. Mas houve também excesso das forças policiais, que teriam usado armamento letal contra os manifestantes. Feita essa ressalva, o efeito de toda essa confusão deteriora ainda mais a governabilidade de Temer, que enfrenta a sua pior crise. Primeiro porque desestabiliza a base e tumultua as sessões no Congresso, comprometendo os esforços palacianos de aprovar as reformas a toque de caixa e criar uma ilusão de normalidade. Segundo porque, a pretexto de conter os protestos, o presidente acabou se sabotando num momento delicado: em uma ação inédita, convocou o Exército para ocupar as ruas. Pela primeira vez desde que o expediente de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi criado, em 1999, um presidente da República o acionou para fazer frente a manifestação de entidades civis. Antes disso, só em caso de risco para autoridades (visita do papa, por exemplo) ou absoluto descontrole do sistema prisional ou greve de PMs. Fosse o mandatário da nação uma figura popular, já seria desastroso. No caso de Temer, pode ser mortal. E pensar que, ao final do dia, o inquilino do Jaburu ainda veria um correligionário chamá-lo de irresponsável da tribuna do Senado (Renan Calheiros) e dois aliados trocarem farpas pela imprensa (Rodrigo Maia e Raul Jungmann), acusando-se mutuamente de haver pedido a presença do Exército - ao cabo da trapalhada, ninguém quis assumir a responsabilidade.

Caiu, novamente, no colo de Temer.


Henrique Araújo

henriquearaujo@opovo.com.br

Adriano Nogueira

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