Procuradores isolam Alessander Sales e defendem investigação
Procuradores da República no Ceará decidiram lançar uma nota à imprensa na qual se desvinculam de investigações da Lava Jato que atingiram o gabinete do procurador Alessander Sales. A nota, assinada por 14 dos 26 membros do Ministério Público Federal (MPF) cearense, reflete o mal-estar na instituição desde que a Lava Jato apontou indícios de corrupção cometidos por um ex-assessor informal de Sales, o engenheiro Marco Antônio Araripe, na obra da adutora do Castanhão.
Na nota, cujo teor teria sido discutido em um grupo de Whatsapp do qual Sales também participa, os procuradores isolam o colega no caso: “Convém esclarecer que referido senhor (Araripe) nunca (...) prestou qualquer serviço aos aqui signatários, sendo até o momento indicado que apenas teria trabalhado a serviço do procurador Alessander Sales”.
Os membros do MPF também defendem a conduta do procurador que vinha conduzindo a investigação, Rômulo Conrado, negando que ele tenha atuado para “obstar, privilegiar ou excluir a completa apuração dos fatos”. O POVO apurou que, embora quase todos tenham visto a discussão no Whatsapp sobre o teor da nota, alguns procuradores preferiram não assinar.
Conforme tem sido publicado nos últimos dias, dois ex-diretores da Odebrecht disseram, em delação premiada, que pagavam propina de R$ 30 mil a R$ 40 mil ao engenheiro Marco Antônio Araripe, que atuou como assessor informal de Alessander Sales nos últimos anos. Segundo delatores, Araripe se valia do acesso ao gabinete de Sales e, supostamente, conseguia evitar que o MPF criasse dificuldades na obra da adutora do Castanhão. Segundo os ex-executivos da Odebrecht, o engenheiro teria contado que Sales não sabia de sua relação com a construtora e que valores supostamente pagos não favoreciam procurador.
O caso, que antes vinha sendo investigado pelo MPF cearense, foi remetido na semana passada à Procuradoria Regional da República da 5ª Região, no Recife, e está nas mãos do procurador Wellington Cabral Saraiva. A remessa ocorreu por decisão da Procuradoria-Geral da República, em Brasília, em decorrência do envolvimento do nome de Sales no caso.
O POVO apurou que Saraiva agora é o responsável por toda a investigação, incluindo o que estiver relacionado a ex-secretários estaduais e outros personagens. Ele poderá, no entanto, decidir pelo desmembramento da apuração, devolvendo ao Ceará parte do processo. Até a tarde de ontem, Saraiva não havia tido acesso aos autos.
Questionado sobre a nota, Alessander Sales afirmou que reforça apoio à conduta do procurador Rômulo Conrado, mas não quis comentar outros trechos, afirmando que, agora, lhe cabe aguardar as investigações. Ele reafirmou, ainda, que pediu à PGR que investigasse o caso envolvendo seu nome, pois, segundo ele, “a dúvida ficou desconfortável”. Marco Araripe não tem se pronunciado sobre as delações e, por meio de seu advogado, Paulo Quezado, afirma que provará inocência no decorrer do processo.
Quem assinou
Procuradores Adalberto Delgado Neto, Anastácio Nóbrega Júnior, Celso Costa Lima, Edmac Lima Trigueiro, Fernando Antônio Negreiros,Geraldo Assunção Tavares, Ilia Freire Borges, Lino Edmar de Menezes, Lívia Maria de Sousa, Marcelo Mesquita Monte, Oscar Costa Filho, Rafael Ribeiro Rayol, Rômulo Conrado, Samuel Miranda Arruda.
Hébely Rebouças