Fernando Haddad entre a herança e o fardo de ser petista
O candidato do PT, Fernando Haddad, conseguiu chegar ao segundo turno apadrinhado pelo ex-presidente Luiz Lula da Silva. Sem poder concorrer às eleições, o petista liderava pesquisas antes de ser preso em Curitiba. A expectativa era de que o ex-prefeito de São Paulo herdasse todos os votos de Lula. Apesar de ter avançado nas urnas, os 28% dos votos válidos ficaram aquém do esperado, resultado de campanha do antipetismo pregado pelos adversários.
Ex-ministro da Educação de Lula, Haddad usou o legado dos anos de ouro do PT durante toda a curta campanha teve pouco mais de três semanas, desde que foi oficializado na cabeça de chapa da sigla. Lembrou das conquistas de vagas em universidade e programas de inclusão social e distribuição de renda. Evitou falar em Dilma Rousseff deposta por impeachment, em 2016 , abrandou o discurso do golpe e quase não mencionou o tempo na prefeitura da capital paulista.
Haddad sempre foi um dos protegidos de Lula. Mas enfrentou resistência de diversas alas do partido. Teve dificuldade de aprovar propostas na Câmara Municipal, que tinha José Américo, também petista, como presidente. Foi antipatizado pela insistência em auditorias, mania de querer colocar ordem. Entre as críticas, estava a de ficar longe do povo, sempre em gabinete. Sofreu as consequências nas urnas, ao perder para João Doria (PSDB) no primeiro turno de 2016.
Aos poucos, seguindo conselhos de Lula, mudou de atitude. Conseguiu conquistar a simpatia de antagonistas dentro do partido, criou discursos mais energéticos, visitou o Nordeste. Ao longo do primeiro turno, a estratégia de não atacar candidatos, principalmente os do centro, deixa clara a possibilidade de busca pelo apoio, e por votos, que tanto precisa para tentar mudar o cenário desfavorável.
Rachados, os cabos eleitorais debatiam se ele deveria continuar à sombra do ex-presidente Lula ou tentar se vender como algo diferente. Só no último debate, o da Globo, foi menos advogado de Lula e defendeu a continuidade do combate à corrupção.
Ontem, no discurso de agradecimento no fim das acusações, Haddad evitou o nome do ex-presidente. "Queremos reunir os democratas. Queremos um projeto amplo, profundamente democrático, mas também que busque, de forma incansável, justiça social. Colocamos a soberania nacional e popular acima de qualquer outro interesse", afirmou.
A proposta sobre nova constituinte, as falas polêmicas do também ex-ministro de Lula, José Dirceu, sobre "tomar o poder", e a quebra de sigilo da delação de Antonio Palocci alimentaram os discursos da direita. Serviram de catalisadores para o medo da "volta do PT".
"Ele vai continuar com a estratégia que é derrota. O fato de ele ir visitar o Lula é um primeiro ato de campanha pró-Bolsonaro. É tudo que o Bolsonaro quer. Para tentar reverter, ele teria que se reinventar, coisa que ele não vai fazer. Teria de ter uma estratégia de campanha diferente: de enfrentamento à corrupção e negação do governo Lula", argumenta o cientista político Paulo Baía da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Como de praxe, às segundas-feiras, Haddad estará com Lula hoje pela manhã, em Curitiba.
Isabel Filgueiras
Aceno
APÓS O RESULTADO DAS URNAS,
Haddad disse esperar um 2º turno "mais civilizado" e fez acenos a Ciro, Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB), seus ex-companheiros de Esplanada no governo Lula.
HADDAD BATEU NA TECLA de que, no 2º turno, Bolsonaro terá de se expor. "Ele tem muita dificuldade de debater. Não tem equipe, não tem projeto. É um político profissional, tem 28 anos de estrada e pouco serviço ao País e vai poder se apresentar agora com um pouco mais de clareza".
MUDANÇAS
Haddad fará mudanças em seu programa de governo, para atrair apoios, e também em sua equipe. A nova linha da campanha traz o slogan "Juntos pelo Brasil do diálogo e do respeito" e diz que a esperança vencerá o ódio.