Prefeito movimentou mais de R$ 26 milhões em conta de aposentado rural, diz PF

[FOTO1]Operação intitulada Bricolagem I, deflagrada pela Polícia Federal (PF) com apoio do Ministério da Transparência e a Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu mandados de busca e apreensão ontem no município de Granjeiro, a 410 quilômetros de Fortaleza. O objetivo da ação foi apurar fraudes em processos licitatórios envolvendo escolas na Cidade.
Foram visitadas a sede da Prefeitura e a casa do prefeito João Gregório (PSD), conhecido como João do Povo. Na residência, foram encontrados R$ 213 mil em caixas de sapato. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas cidades de Caririaçu, Aurora, Juazeiro do Norte, todos no Cariri, além de Fortaleza. Nestes locais estariam outros integrantes do esquema, a exemplo dos donos das empresas que fariam as obras.
Em entrevista coletiva em que a rádio O POVO/CBN Cariri esteve presente, a delegada da Polícia Federal, Josefa Maria Lourenço, afirmou que as investigações também chegaram a uma quantia de R$ 26 milhões movimentados pelo prefeito na conta de um parente que recebe aposentadoria rural.
"Uma pessoa, parente do prefeito, que é beneficiário de aposentadoria rural, movimentou num período de mais ou menos dois anos mais de R$ 26 milhões. É uma movimentação muito vultosa para a capacidade financeira do titular da conta", diz a delegada.
Conforme Josefa, as empresas vencedoras destas licitações não prestavam os serviços de reforma das escolas. "Quem na realidade estava executando as obras nas escolas era o prefeito. Ele mesmo se encarregava de comprar material, determinar execução, contratava pessoas", explica.
Os contratos com as empresas responsáveis por construções de duas escolas totalizavam mais de R$ 5 milhões, mas eventuais danos ao dinheiro público ainda serão objetos de análise.
Conforme o auditor federal de finanças e controle da CGU no Ceará, George Colares, as equipes que visitaram a obra e conversaram com os trabalhadores puderam constatar que não havia qualquer vínculo empregatício com as empresas oficialmente contratadas.
Ele afirma que a prática "pouco sofisticada" chamou atenção. Colares explica que é comum encontrar mais planejamento nestes métodos, com "processos de fraude mais modificados".
Além dos crimes licitatórios, Colares lembra que a operação também trata de recursos federais para a educação desviados: Fundef, FNDE e Pnate.
Assim, Josefa diz que João do Povo poderá responder por por fraude à licitação, desvio de verba, associação criminosa - já que mais de três pessoas estariam envolvidas - e lavagem de dinheiro.
Os 15 mandados de busca e apreensão foram concedidos pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5). Na investigação, foram solicitadas prisões preventivas e provisórias, mas foram indeferidos, uma vez que considerou-se ausência de provas suficientes.
O próximo passo da operação, diz Colares, será a averiguação da procedência de todo o dinheiro apreendido, além de uma máquina de contar dinheiro, um veículo, contratos e processos de pagamentos.
A reportagem do O POVO procurou o prefeito, mas não conseguiu localizá-lo. O chefe de gabinete de João Gregório, identificado como André Alexandre, afirmou que, no momento em que a Polícia Federal foi à casa do prefeito, ele estava em Fortaleza. Segundo Alexandre, Gregório frequenta a Capital com regularidade. Ele repassou à reportagem número de celular que seria o do advogado do prefeito, a quem chamou "doutor Lourenço". Contudo, as ligações não foram atendidas.
15 mandados de busca e apreensão foram cumpridos pela operação Bricolagem
Carlos Holanda