Logo O POVO+
Futebol cearense: a volta em meio à pandemia do novo coronavírus
Politica

Futebol cearense: a volta em meio à pandemia do novo coronavírus

No centro da polêmica discussão, dirigentes e jogadores querem o retorno do futebol, mas Governo do Estado, com apoio de médicos, prefere esperar
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Botafogo e Fluminense se posicionaram contra a retomada do futebol, defendendo que a saúde de atletas e torcedores fossem priorizadas (Foto: VITOR SILVA / BOTAFOGO / AFP)
Foto: VITOR SILVA / BOTAFOGO / AFP Botafogo e Fluminense se posicionaram contra a retomada do futebol, defendendo que a saúde de atletas e torcedores fossem priorizadas

O futebol cearense trabalha nos bastidores para tentar antecipar a retomada dos jogos, prevista para o próximo dia 20. O grupo de trabalho criado pelo Governo do Ceará, que realiza estudos sobre o cenário de retorno às atividades econômicas, recebeu protocolo da Federação Cearense de Futebol (FCF) para a volta das partidas a partir de 6 de julho, data já descartada, com ênfase, pelo governador Camilo Santana.

A situação causa desconforto, tanto que os presidentes do Ceará, Robinson de Castro, e do Fortaleza, Marcelo Paz, falam em atuar até fora do Estado para encerrar o Campeonato Cearense o quanto antes, cenário que seria "constrangedor" de acordo com o presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio, em contato exclusivo com O POVO ontem.

O Ceará é o terceiro Estado do Brasil em números de casos de Covid-19 (116.519) e mortes confirmados (6.307) até ontem no final da tarde, pode ser o segundo a retomar as partidas de futebol no Brasil, através do Campeonato Cearense.

Após análise do grupo de trabalho, o trâmite do documento prevê avaliação da Secretaria Estadual da Saúde e, posteriormente, do governador Camilo Santana, que pode determinar a antecipação do retorno.

Inicialmente, os jogos do Campeonato Cearense estão previstos para ocorrer a partir do dia 20, quando o futebol completaria a quarta fase da retomada da atividade autorizada pelo Governo do Estado.

Os treinos foram liberados em 1º de junho, mas apenas Ceará e Fortaleza trabalham desde a primeira semana de liberação dos oito clubes que ainda disputam o torneio local. Os outros iniciaram bem depois. Até o momento, apenas o Rio de Janeiro, segundo com mais casos do novo coronavírus e mortes confirmados do Brasil, retomou o calendário de jogos.

Leia mais - O que pensam os jogadores do retorno do futebol em plena pandemia

A tendência no restante do país, de acordo com protocolos elaborados, é de retorno de partidas também para o fim de julho. Os principais torneios nacionais, as Séries A e B, têm projeções para agosto.

A volta do Campeonato Carioca aconteceu no dia 18 de junho na vitória do Flamengo por 3 a 0 sobre o Bangu no Maracanã, ao lado de um hospital de campanha contra a Covid-19, em meio a polêmicas. A retomada recebeu críticas.

"É constrangedor ser obrigado a competir no único país que planeja jogos de futebol convivendo com registros, em média, superiores a 1.000 mortes e 30.000 contaminações por dia [...] A pressa é sem explicação", diz trecho de nota divulgada pelo Alvinegro carioca.

Leia mais - Todas as matérias da série "Futebol cearense: a volta em meio à pandemia do novo coronavírus". 

Competições

Principais campeonatos envolvendo clubes cearenses de futebol em 2020

PRECISAM SER ENCERRADOS

- Campeonato Cearense (Ferroviário, Ceará, Fortaleza, Barbalha, Caucaia, Atlético-CE, Guarany e Pacajus)

- Copa do Nordeste (Ceará e Fortaleza)

- Copa do Brasil (Ceará e Fortaleza)

PRECISAM SER INICIADOS

- Segunda divisão do Campeonato Cearense (Icasa, Maranguape, Iguatu, Campo Grande, Crato, Guarani, Itapipoca, Pacatuba, Tiradantes e União)

- Campeonato Brasileiro Série A (Ceará e Fortaleza)

- Campeonato Brasileiro Série C (Ferroviário)

- Campeonato Brasileiro Série D (Guarany e Floresta)

Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de junho de 2020: Jogador de futebol japonês Keisuke Honda (R) e colegas de equipe exibindo uma faixa com a inscrição
Rio de Janeiro, Brasil, em 28 de junho de 2020: Jogador de futebol japonês Keisuke Honda (R) e colegas de equipe exibindo uma faixa com a inscrição "Protocolo bom é aquele que respeita vidas" como um protesto contra o currículo do Campeonato Carioca, antes da partida a portas fechadas contra o Cabofriense no estádio Nilton Santos, em meio à nova pandemia de coronavírus COVID-19. - Dois dos maiores clubes do Rio, Botafogo e Fluminense, lutaram - sem sucesso - a decisão do prefeito Marcelo Crivella de autorizar partidas de futebol a portas fechadas, argumentando que está colocando vidas em risco, já que as infecções ainda não estão sob controle no Brasil. (Foto de Vitor SILVA / Botafogo / AFP)

Atletas elogiam protocolo dos clubes durante treinos

A classe de jogadores representa a "linha de frente" da volta de futebol. Serão eles a maioria exposta a cada partida. Até o momento, os clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, a elite do esporte, registraram 95 casos do novo coronavírus em atletas, segundo levantamento do Estadão com base em informações oficiais das próprias equipes.

Para Mauro Carmélio, encerrar Campeonato Cearense em outro Estado seria situação "constrangedora"

Neste cenário, 13 são atletas de Ceará e Fortaleza, que já se recuperaram e voltaram aos treinamentos. Em âmbito local, o Ferroviário testou atletas e nove estavam infectados, sem sintomas graves. O protocolo seguido pelos clubes com jogadores que testam positivo é a manutenção de quarentena. O número de casos da Covid-19 entre atletas da Série A equivale a oito times titulares e mais sete reservas.

Desde a volta dos treinos, jogadores de Ceará e Fortaleza têm elogiado a estrutura implantada para garantir a segurança do elenco e os demais funcionários, em entrevistas para os canais oficiais de comunicação dos clubes.

Contra a volta dos jogos, infectologista vê péssimo exemplo do futebol

Um dos principais atletas do Alvinegro, Rafael Sobis reforçou a confiança no protocolo seguido no CT da equipe, no Porangabuçu. "É muito louvável o que aconteceu. Com uma pandemia, muitas incertezas, e o clube preparou da melhor forma. Um dos pioneiros no Brasil. Estamos treinando com toda a segurança. Um clube sério se mostra nisso", afirmou.

O lateral-direito do Fortaleza, Tinga, também avaliou positivamente a retomada das atividades no CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú. "O pior já passou, principalmente em Fortaleza, onde está diminuindo o número de casos de infectados […] e o clube está nos cuidando muito bem, sendo responsável, isso é o diferencial."

Presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Ceará (Safece), Marcos Gaúcho reforça o coro de elogios dos protocolos seguidos por Ceará e Fortaleza para a volta aos treinos, mas se posiciona contra a retomada do calendário de jogos do futebol cearense para o início de julho.

"Não é o momento, apesar da necessidade e da dificuldade. Não é oportuno. Os treinamentos podem começar desde que os protocolos sejam seguidos por todos os clubes. Mas a gente não vê com bons olhos a antecipação", comentou. (Lucas Mota)


Infectologista vê péssimo exemplo caso futebol retorne em meio à pandemia

Infectologista do Hospital São José e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Roberto da Justa é contra a volta dos jogos do futebol no Ceará em meio à pandemia do novo coronavírus.

Para o especialista, o esporte, como setor formador de opinião, precisa dar exemplo para a sociedade e avalia a situação do Estado como delicada, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Norte e Sul.

Leia mais - O que pensam os jogadores do retorno do futebol em plena pandemia

"O vírus circula intensamente. Acho temerário, mesmo sem torcida. O momento é de manter o distanciamento social. Sei da importância do futebol, o que representa para a economia. Mas é preciso levar a sério a pandemia. O futebol deve ser exemplar. É o olhar de muitos infectologistas, e eu sou contrário (à volta) no mês de julho", comentou.

O professor da UFC ressalta ainda que futebol com presença de torcida está fora de cogitação em 2020. Ele pontua a quantidade de pessoas envolvidas numa partida oficial, além dos times em si, que pode movimentar uma logística de 100 a 300 profissionais.

Leia também - Para Mauro Carmélio, encerrar Campeonato Cearense em outro Estado seria situação "constrangedora"

"É um tipo de aglomeração que traz preocupação porque você tem contato intenso com as pessoas. É um risco de transmissão significativo e, muitas vezes, os assintomáticos, que possam estar entre (membros da) comissão e jogadores, não sabem e podem transmitir", afirma.

O infectologista mostra preocupação com a influência do futebol na sociedade diante do retorno do calendário de jogos. "Você incentivar a prática de jogos acaba incentivando na população o futebol nos bairros. O futebol é exemplo e repercute na sociedade de maneira intensa. Fico receoso dos riscos que existem com os próprios jogadores e membros da comissão e o exemplo que vai dar."

Roberto elogia as medidas do Governo de enfrentamento à pandemia, mas ressalta que, apesar da queda na incidência da Covid-19 em Fortaleza, a situação no Ceará ainda é complicada.

"O cenário é muito grave e preocupante sobre o quantitativo de dados diários, que ainda é grande, e de óbitos também, em especial fora da Capital. Nesses locais (RMF, Norte e Sul), a situação está descontrolada. O sistema de saúde está quase em colapso. É contraditório iniciar o campeonato estadual envolvendo times (Caucaia e Guarany de Sobral) onde o cenário é grave. A contradição é tremenda e um péssimo exemplo para a população." (Lucas Mota)

Leia mais - Com um mês de treinos presenciais, preparador físico do Ceará avalia elenco positivamente

 

 

O que você achou desse conteúdo?