Se o Partido dos Trabalhadores (PT) ainda não colocou inteiramente o "bloco na rua", nos bastidores já se move na perspectiva de iniciar conversas sobre o próximo ano, de disputa presidencial. Uma das frentes abertas pelo ex-presidente Lula (PT) vai na direção de siglas do centro e da centro-direita.
O líder petista destacou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), para a missão de estreitar relações com o PSDB e outras legendas de fora da esquerda.
O intuito é também cavar um espaço de influência a partir do qual Lula possa operar, inclusive internacionalmente, para aquisição de vacinas contra a Covid-19. Seria um modo de a oposição petista evidenciar que há um vácuo de gestão no Governo Federal.
Um fator que ajuda nessa perspectiva é a rejeição a Bolsonaro, que saltou, de acordo com última pesquisa Datafolha. O total de brasileiros que consideram o trabalho do governo como péssimo ou ruim durante a pandemia saiu de 48% para 54% (ver infográfico).
Enquanto isso, Lula deu ontem entrevista à CNN Internacional e disse que o presidente estadunidense Joe Biden deveria convocar a cúpula do G-20 para assegurar a equidade na distribuição de vacinas pelos países.
Na conversa com a emissora, o petista aproveitou para dar uma estocada em Bolsonaro, afirmando que tal pedido não poderia ser feito a ele, pois não acredita no governo brasileiro. Tampouco a Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos. Mas Biden, segundo Lula, é um sopro de democracia.
A conversa se deslocou para o ambiente eleitoral, momento em que Lula disse que, se convocado a representar o PT em 2022, não recusará. A fala, na prática, é uma demonstração de respeito aos ritos do partido, pois o ex-presidente é o postulante natural da legenda sem que para isso haja necessidade política de convenção partidária.
Segundo Wellington Dias, o momento é de dar as mãos a líderes tucanos como João Doria, governador de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, numa demonstração de grandeza política.
Dias coordena o consórcio de governadores do Nordeste, que anunciou um acordo com o fabricante russo da vacina Sputnik para a compra de 39 milhões de doses. A inclusão de Lula nos diálogos sobre a crise sanitária teria outro motivo: mantê-lo em evidência, mas fora do noticiário sobre seus problemas judiciais.
Líder da Minoria na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT) afirma ao O POVO que a preocupação da hora não é discutir nomes para 2022, mas "construir um movimento potente" contra o Bolsonaro de 2021. "Se a gente conseguir fazer isso, terá forte impacto em 2022. Mas não é botar 2022 na frente de 2021. Não temos perspectiva animadora com a pandemia nem com a economia", diz.
Para o cearense, forças como PP e PL, expoentes do Centrão da política nacional, podem abandonar o presidente e desembarcarem numa candidatura Lula. Paulo Pimenta (PT-RS) diz já perceber de outros líderes um entendimento de que o mandachuva do PT é a alternativa mais viável a Bolsonaro. Acostumado a entrar em atritos com Ciro, ele suavizou o tom. "É um cara inteligente, o PDT tem história. O Ciro entende que o nome dele é o melhor, mas no decorrer desse processo precisamos construir uma grande unidade". (Com AE)