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Quem está nas ruas de Fortaleza para protestar contra o lockdown
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Quem está nas ruas de Fortaleza para protestar contra o lockdown

No pior momento da pandemia, manifestantes vão às ruas de Fortaleza pela abertura do comércio. Há, ainda, manifestações de apoio ao presidente Bolsonaro e em defesa do "tratamento precoce"
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Manifestação contra o lockdown e o decreto do Governador Camilo Santana, em Fortaleza (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Manifestação contra o lockdown e o decreto do Governador Camilo Santana, em Fortaleza

Após o decreto estadual de 11 de março, que determinou isolamento mais rígido, manifestantes vestidos com as cores da bandeira do Brasil foram às ruas de Fortaleza protestar contra o fechamento do comércio.

A indumentária, que já caracteriza grupos e ideologias desde os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma (PT) em 2015, identifica, agora, durante a pandemia do novo coronavírus, os manifestantes contrários ao isolamento social.

Na Capital, as manifestações acontecem no momento em que o Ceará atravessa seu pior momento da pandemia e chega a 489.224 casos confirmados de Covid-19 e 12.704 óbitos pela doença. Com UTIs lotadas, o Estado vive o auge da segunda onda.

Em protestos como o do último domingo, 14, e de segunda-feira, 15, a reivindicação principal é pela abertura dos postos de trabalho.

No entanto, no meio disso são levantadas outras pautas. A inevitável identificação ideológica que se dá pela associação das cores verde e amarelo, se afirma com manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nesses lugares, também é possível identificar protestos contra o STF e contra o governador Camilo Santana (PT).

O advogado João Henrique Antero, que acompanhou os grupos que foram levados à delegacia durante os dois dias de protesto, afirma não haver um ideal comum entre os manifestantes, além do pedido pela abertura do comércio.

Atualmente contratado pelo deputado Delegado Cavalcante (PSL) para prestar apoio legal aos manifestantes levados pela polícia, o advogado oferece serviço autônomo desde 2013 a grupos de direita do Ceará, com os quais se identifica.

Igualmente aos seus clientes, o advogado é contrário à determinação de isolamento, defende que "a doença criada pelo lockdown é pior que a doença criada pelo vírus" e sugere que as pessoas se aglomeram mais em casa do que nas ruas, sobretudo em residências de famílias com muitos membros e pouca estrutura, localizadas em bairros mais pobres.

Questionado sobre as manifestações políticas, em especial quanto ao apoio ao presidente, que se confundem com as reivindicações de pleno funcionamento do comércio, ele afirma que "essas pessoas passaram a gostar mais do Bolsonaro" diante do seu posicionamento contra o lockdown, o que justificaria a pauta em um protesto cujo intuito é "reivindicar unicamente o direito laboral".

Marcos Alan Maia é um dos manifestantes conduzidos ao 34° DP no protesto do último dia 15 por descumprimento do decreto de isolamento e das medidas sanitárias.

Maia é pastor evangélico da Assembleia de Deus e proprietário de uma loja de calçados no Centro. Ele pede pela abertura do comércio com as medidas de segurança necessárias e afirma: "o vírus existe, mas também existe tratamento".

Maia não acredita na eficácia do lockdown para combater a disseminação da doença e argumenta: "no ano passado, quando estávamos todos trabalhando, essa pandemia diminuiu", disse referindo-se à abertura responsável do comércio no Ceará em junho de 2020, após três meses de decreto de isolamento rígido. O pastor atribui ao lockdown o "aumento dos casos".

Indagado sobre o tratamento que sugeriu existir , uma vez que a comunidade científica e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não reconhece nenhum remédio como eficaz contra a doença - ele citou as medidas protetivas já conhecidas, como uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento, e defendeu o tratamento precoce com uso de hidroxicloroquina e outros fármacos.

Ainda sobre o lockdown, ele afirma: "dentro da minha casa existem seis pessoas. Eu ficava, na minha loja, dentro do meu escritório. Agora, eu fico com seis pessoas. Você imagina na periferia".

Com a pandemia, Maia precisou demitir todos os sete funcionários e diz estar prestes a encerrar seu negócio definitivamente.

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Sobre a participação no protesto, ele diz não ter nenhuma motivação ideológica e que sua luta é apenas pela abertura do comércio. "Longe de mim ter alguma ideologia", reforçou. O pastor, porém, faz críticas à atuação do Governo do Estado no enfrentamento à pandemia.

Leonardo Tote, por sua vez, é uma dos manifestantes que afirmam que a simpatia pelo presidente da República vem de antes da pandemia, e resiste a ela. "Todo mundo que lá está é eleitor do presidente, de direita, conservador e cristão", pontuou. Ele acredita que os atuais protestos são incompreendidos pelo resto da população, e faz uma observação: "nós não somos negacionistas. Queremos vacina também", destacou.

Apesar da afirmação, nos protestos - onde o próprio Leonardo confirma a presença de diferentes reivindicações, segundo ele lá "cada um reivindica aquilo que deseja" - não foram identificados pedidos por vacinação em massa.

De pronto, ele também advoga por Bolsonaro, muito criticado após questionar publicamente a eficácia dos imunizantes e por recusar o contrato de compra da vacina Pfizer/BioNtech. Para isso, ele cita o tempo curto de produção das vacinas e o acordo proposto pelo laboratório, que não se responsabiliza por possíveis efeitos colaterais. "O presidente, logicamente, num ato de responsabilidade, não quis", argumentou.

Ainda em concordância com o chefe do Executivo, Leonardo defende o tratamento precoce com ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina. Ele confirma ter feito uso do primeiro há dois meses de forma preventiva.

 

 

Um anarquista sem medo de rótulos

O comerciante Juarez Cordeiro, proprietário de uma loja de artigos de higiene pessoal, construção civil e outras variedades no centro da Cidade, estava presente ao protesto de segunda-feira passada, do qual tomara conhecimento pelo Instagram. Ele se diz anarquista e não se identifica ideologicamente com a maioria dos manifestantes, sendo motivado apenas pela necessidade de reabrir a sua loja. Questionado se sentia incômodo com a ideia de poder ser associado a um bolsonarista, o comerciante afirmou não se constranger. "A maioria o meu círculo social é", finalizou.

Segundo ele defende, a recusa ao fechamento do comércio independe do posicionamento político. "Um dos meus funcionários é eleitor do Ciro, outro do Lula e outro do Bolsonaro, e nenhum dos três quer perder o emprego", diz. Juarez comemora o fato ter virado o ano de 2020 sem precisar demitir nenhum dos seus três funcionários, graças ao faturamento viabilizado pelo auxílio emergencial que manteve o poder de compra dos seus clientes.

Sobre a adesão ao tratamento precoce, Juarez se diz cético à ideia de um remédio que seja a solução para a doença, mas "não se pode ficar parado e dar chance ao azar". Juarez relata que, assim como ele, muitos comerciantes do entorno fizeram uso do remédio na tentativa de se proteger da doença. Ele conta também que em junho do ano passado, mês que marcou a abertura gradual do comércio na Capital após o primeiro lockdown, foram registrados surtos de covid em várias lojas próximas. Juarez e seus empregadores não tiveram a doença comprovada por exame e nem chegaram a manifestar sintomas.

O uso da ivermectina entre os brasileiros para um tratamento precoce e preventivo contra à covid se popularizou, sobretudo, entre apoiadores do presidente, após o mesmo defender este e outros fármacos como método eficaz contra a doença. (MEP)

Marcos Maia, pastor
Marcos Maia, pastor

Negócio

O PASTOR

Nega qualquer motivação ideológica e diz que sua luta é apenas pela abertura do comércio. "Longe de mim", reforça, adiantando que também defende o respeito às medidas de segurança necessárias. Para ele, "o vírus existe, mas também existe tratamento". Adverte que está prestes a fechar as portas do seu negócio, definitivamente.

Leonardo Tote, contra o lockdown
Leonardo Tote, contra o lockdown

Ideologia

O ELEITOR

Assume simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "Todo mundo que lá está é eleitor do presidente, de direita, conservador e cristão", pontuou.

Ainda em concordância com Bolsonaro, Leonardo defende o tratamento precoce com ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina.

João Henrique Antero, advogado
João Henrique Antero, advogado

Defesa

O ADVOGADO

Defende, desde 2013, grupos de direita, com os quais se identifica, quando há qualquer tipo de repressão policial contra seus integrantes durante as manifestações. Considera normal que a posição de Bolsonaro tenha aproximado-o ainda mais do grupo que realiza os protestos.

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