Alvo de críticas do deputado federal e pré-candidato ao Governo Capitão Wagner (Pros-CE), o governador Camilo Santana (PT) acionou aliados para neutralizarem as investidas do potencial adversário em 2022.
Nos últimos quatro dias, secretários de Estado e pedetistas se revezaram nos contragolpes a Wagner, que disse, no fim de semana passado, que "as facções mandam no Ceará".
O primeiro deles foi Sandro Caron, titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Até então figura discreta na administração, Caron atribuiu ao deputado responsabilidade pelo motim da PM de 2020, na esteira do qual os números de homicídios aumentaram.
Ao O POVO, o chefe da SSPDS afirmou que "as facções estavam destruídas, com o estado apresentando a maior redução de homicídios do País", mas "tinha uma eleição pela frente, e tentaram desorganizar a segurança com fins eleitoreiros".
Dois dias antes, Wagner, durante live nas redes sociais, havia declarado: "É fake news ou é verdade que facções mandam no Ceará? É fake news ou verdade que estão expulsando moradores das periferias? A segurança está sob controle do governo ou das facções? ", questionou.
Às declarações de Caron, seguiram-se falas de Mauro Albuquerque, secretário da Administração Penitenciária do Ceará, e do líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Júlio César Filho (Cidadania) - ambas críticas ao deputado federal.
Pelas redes sociais, o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), também se manifestou. Sem citar Wagner, RC disse que, "enquanto o governador Camilo Santana, o secretário Sandro Caron e o secretário Mauro Albuquerque trabalham duro, outros apostam na mofada fórmula da demagogia, oportunismo eleitoreiro e politicagem barata".
"Nossa gente é sábia e inteligente", continuou o ex-gestor, "e distingue quem fala a verdade e trabalha sério".
Principais lideranças do grupo de Camilo, os irmãos Ciro e Cid Gomes não participaram do entrevero dos blocos governista e de oposição, que antecipa clima de disputa de 2022.
Cientista político da UFC e professor, Cleyton Monte afirmou à reportagem que o choque político a um ano da eleição sinaliza que, novamente, o tema da segurança será crucial no pleito, embora outros assuntos possam ter repercussão semelhante ou maior.
Como exemplos, Monte cita "a pandemia, a questão econômica e o aumento dos níveis de pobreza e desigualdade" em todo o país.
Mas, conforme o pesquisador, "a segurança vai ser importante porque é sempre colocada como calcanhar de Aquiles desse grupo".
"Não tem como não destacar o assunto. Existe nas grandes cidades do Ceará uma percepção de que o crime organizado avançou nos últimos anos. E é claro que vamos ter uma disputa de discursos", complementou.
Para ele, "enquanto a oposição vai tentar vender a ideia de que esse avanço se deu por omissão do Governo do Estado", como já vem fazendo Wagner, "o grupo dominante hoje vai buscar a discussão de que não tem como neutralizar sozinho avanços das facções".
Monte não tem dúvida, contudo, de que a queda de braço vista nesta semana é uma espécie de prévia dos embates que estão no horizonte da sucessão de Camilo, cuja gestão somará, ao cabo, quase 16 anos de ciclo sob o mesmo domínio, incluídos os oito de governo Cid.