No país em que se gastam, em média, oito dias no ano para abrir uma empresa e mais de 1.958 horas para calcular tributos, segundo o Banco Mundial, a percepção de muitos empresários é de que tudo que vier para facilitar e desburocratizar as operações será bem-vindo. Por outro lado, trabalhadores temem a perda de direitos e piora das condições de trabalho.

Vicente de Francesco é sócio da Casa Veneza, rede de sapatarias no Centro de Fortaleza, e explica que hoje a burocracia atrapalha muito as atividades do comércio. "Nos EUA, ao se alugar um ponto, é possível abrir já no dia seguinte. Aqui, se para abrir é complicado, fechar é mais ainda".

Para ele, a desobrigação de guardar documentos físicos, se tiver os digitais, e a flexibilização de horários e de algumas regras de ponto são necessárias até para atender a uma demanda dos novos tempos, mas as empresas terão de ter a prudência de fazer as mudanças respeitando as regras trabalhistas em vigor e em acordo com funcionários. "Porque uma pessoa insatisfeita não vai produzir", afirma Vicente.

A atendente de farmácia, Cristina Franco, no entanto, teme que isso não se confirme na prática. Ela, que hoje já trabalha em regime de plantão aos fins de semana, está com medo de perder a hora dobrada. "Fora que hoje já é difícil conseguir a folga no domingo, agora, vai piorar. E quem não quiser perder o emprego vai ter que se sujeitar ao que for preciso, porque a fila de gente que quer entrar é grande".

Para o economista e empreendedor, Felipe Coelho, a possibilidade das empresas começarem a funcionar ainda em fase de testes de produtos antes de se formalizar também abrirá caminho para as startups. "Hoje, só depois de um período de dois anos e faturamento de R$60 mil ao ano, que posso pedir autorização para funcionar. Com a MP não, haverá uma imunidade burocrática para estes negócios nascentes".