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"Sabe o que é o pior de tudo? O julgamento das pessoas"
Reportagem

"Sabe o que é o pior de tudo? O julgamento das pessoas"

ansiedade
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A epidemia de ansiedade que vem tomando conta do Brasil - segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) o País tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões (9,3% da população) - também aflige os jovens. Nara, nome que adotamos para não identificar adolescente de 17 anos, do terceiro ano do ensino médio, é um exemplo de caso do transtorno.

A estudante relata a dificuldade de ser diagnosticada e de superar o preconceito vivido na escola. A ausência de atendimento especializado na instituição de ensino que frequentava levou-a até mesmo a deixar um colégio de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, para estudar em outro na Capital cearense, instalado na Regional VI. "Eu não aguentava mais sofrer bullying. Até ameaçada de levar uma pisa eu fui (na escola). Só porque eu passava mal."

As crises de Nara também resultaram em automutilação. "Eu me cortava muito e me machucava de todos os jeitos porque não aguentava mais o julgamento das pessoas. Principalmente da minha própria família. Ainda tenho as cicatrizes", revela. "Ela (mãe de Nara) chegou a falar que eu passava mal porque eu queria, que eu sou uma decepção por fazê-la viver em hospital."

Na nova escola, educadores notaram o comportamento de Nara e lhe sugeriram busca um especialista. Segundo ela, os professores da antiga instituição não se importavam com isso. "Tinham muitos que julgavam também. Falavam que tudo era pra chamar atenção. Todos os alunos da escola gritavam quando eu passava mal. Diziam que eu estava grávida", desabafa.

"Sabe o que é o pior de tudo em você sofrer de ansiedade ou depressão? Não são os remédios ou as idas aos médicos, mas o julgamento das pessoas. Elas só sabem falar que é frescura. Isso é muito horrível."

Para entender o motivo da falta de ar e dos desmaios, a aluna acabou por ir a vários médicos. Apesar dos remédios prescritos, nenhum foi capaz de cessar o adoecimento. São dois anos e meio nesse quadro. "Ao psicólogo eu deixei de ir porque meus colegas da escola estavam me chamando de doida." A opção hoje é por ficar trancada vendo anime. "Sempre ando com um sorriso no rosto. Demonstro estar bem. Assim, ninguém pergunta nada", confessa a forma que faz para não lidar com o preconceito. "Finjo até pra minha mãe. Quando estou mal, ela briga. Fala que não tenho motivos para estar doente, para tomar vergonha na cara. Quando eu estou feliz, ela fica bem. Então tenho que estar feliz o tempo todo."

 

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