Jair Bolsonaro não foi exatamente um Papai Noel para Sergio Moro. No dia do feriado do Natal, passou-lhe uma rasteira política ao incluir no projeto anticrime uma emenda indigesta para o ministro. Então chamada de "anti-Moro" por deputados de oposição, a medida institui o juiz de garantias, que, pelo que o próprio nome indica, é responsável pela lisura do processo em sua fase inicial. Cumprida essa etapa, a investigação passa às mãos de outro magistrado, a cargo de quem ficará a instrução processual. Para os defensores do dispositivo, ele impede que um mesmo juiz concentre poderes numa ação penal. Ex-titular da Vara Federal da Lava Jato, Moro não via o expediente com bons olhos. Tinha lá suas razões, nenhuma muito convincente. O ministro então pressionou Bolsonaro para vetar o trecho. Deu com burros n'água. A decisão do presidente tem muitas leituras e efeitos políticos diversos. Cria um desgaste do chefe do Executivo com a base do seu eleitorado que é lavajatista, ou seja, exatamente aquele segmento que mantém a popularidade Moro quase sempre mais elevada que a do presidente (a tag "Bolsonaro traidor" esteve o dia todo entre os assuntos mais comentados do Twitter). Também indispõe o mandachuva da nação com uma parte barulhenta dos senadores, que aprovaram o pacote anticrime exatamente como havia sido enviado pela Câmara na esperança de que os pontos controversos fossem eliminados. Bolsonaro não atendeu nem a Moro, nem a esse pedaço moralista do Senado. Nessa briga, ficou com a Câmara de Rodrigo Maia (DEM), com quem tem aprendido a concordar mais vezes. Nem que, para isso, seja necessário contrariar seus apoiadores e atirar Moro à fogueira, azedando o fim de ano do superministro.