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Apesar de melhor índice desde 2012, Ensino Médio segue próximo do nível crítico
Reportagem

Apesar de melhor índice desde 2012, Ensino Médio segue próximo do nível crítico

Pela primeira vez em oito anos, os estudantes do 3º ano do Ensino Médio alcançaram nível intermediário de proficiência no Spaece
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fORTALEZA, CE, BRASIL, 15-01-2020: Governador Camilo Santana, faz uma divulgação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece), no Palacio da Abolição. (Foto: Mauri Melo/O POVO). (Foto: MAURI MELO/O POVO)
Foto: MAURI MELO/O POVO fORTALEZA, CE, BRASIL, 15-01-2020: Governador Camilo Santana, faz uma divulgação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece), no Palacio da Abolição. (Foto: Mauri Melo/O POVO).

Os concludentes do Ensino Médio no Ceará atingiram em 2019 os melhores índices em Língua Portuguesa e Matemática desde 2012. É o que indicam as médias de pontuação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece), divulgadas pelo Governo nessa quarta-feira, 15. Apesar dos avanços, os conhecimentos dos estudantes ainda não atingiram o nível adequado segundo a escala adotada pela Secretaria de Educação (Seduc).

O maior avanço foi em Língua Portuguesa: pela primeira vez em oito anos, os estudantes do 3º ano do Ensino Médio alcançaram nível intermediário de proficiência, com 278,2 pontos registrados em 2019. O crescimento é de quase sete pontos em comparação a 2018, quando o nível era crítico, com média de 271,6. Entretanto, o resultado dista apenas três pontos do piso intermediário. Na escala do Spaece para a disciplina, resultados até 225 são considerados de nível muito crítico; de 225 a 275, crítico; de 275 a 325, intermediário; e acima de 325, adequado.

Já em Matemática, a proficiência é crítica, com 274,3 pontos em 2019. O valor é ligeiramente superior a 2018, quando os concludentes do ensino médio obtiveram a média de 272,5 pontos na prova. Na escala do Spaece para Matemática, resultados até 250 são considerados de nível muito crítico; de 250 a 300, crítico; de 300 a 350, intermediário; e acima de 350, adequado.

A pesquisa mostra ainda a porcentagem de estudantes em cada nível. Entre os alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio que realizaram o Spaece 2019, 72,5% apresentaram níveis de conhecimento matemático entre muito crítico (41%) ou crítico (31,5%). Apenas 15,5% apresentaram nível intermediário e 11,6%, adequado. Em Língua Portuguesa, o desempenho da maioria dos alunos foi intermediário (39,6%) com 31,5% em nível crítico, 15,5%, adequado e 13,5%, muito crítico.

A professora e vice-diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Adriana Eufrásio Braga, avalia que o nível crítico em Matemática é preocupante, pois, na fase final da educação básica, muitos dos alunos têm a perspectiva de ingressar no Ensino Superior e a defasagem pode dificultar esse processo. "Precisamos pensar em alternativas que propiciem um ensino que facilita os envolvidos: tanto os professores e suas estratégicas didáticas em sala de aula, quanto a motivação do aprendizado do aluno em reconhecer a importância desse conteúdo para a sua vida", opina.

A vice-governadora Izolda Cela avalia os resultados com "otimismo e esperança". Para ela o Estado vem consolidando uma tendência. "Isso é muito importante porque o que mais preocupa na análise do comportamento de resultados de uma política pública é a instabilidade." Também presente na solenidade, o governador Camilo Santana afirma que "os números mostram a evolução da melhoria contínua que o Ceará tem tido ao longo dos últimos anos". "O desafio é a gente chegar ao nível adequado que a educação pública e os nossos jovens merecem".

Eliana Estrela, titular da Seduc, aponta que "o Ensino Médio como um todo ainda é desafiador". "O Spaece nos ajuda a trilhar bem o caminho; perceber como estamos e de onde vamos partir para começar a caminhada em 2020 com o novo ano letivo." A secretária destacou ações estaduais voltadas para o desenvolvimento do ensino de Matemática, entre elas o programa Cientista Chefe, que une o meio acadêmico e a gestão pública, e cursos de especialização dos professores voltados para a disciplina.

Outra estratégia são as escolas em tempo integral e para esse ano serão construídas mais 25. Essa deveria ser a principal medida estimulada em todos o País. O Governo tem a definição de onde serão 24 delas: Paracuru, Morrinhos, Acaraú, Tianguá, Massapé, Sobral (duas unidades), Irauçuba, Varjota, Quixadá, Ipaporanga, Poranga, Mombaça, Parambu, Cariús, Várzea Alegre, Jardim, Mauriti, Aboiara, Penaforte, Jati, Fortaleza, Jucás e Assaré. Com estas, o Estado totalizará 277 unidades de ensino com jornada prolongada. O número equivale a 38% de toda a rede estadual que atualmente conta com 728 escolas e 423 mil alunos, de acordo com a Seduc.

Além destas instituições, o governador ainda confirmou que devem ser instaladas três escolas em parceria com instituições militares no Estado: em Maracanaú, Sobral e Quixadá. Segundo ele, se trata de uma demanda que vem dos próprios militares e que faz parte de compromissos assumidos quando foi eleito. Hoje o Ceará tem três escolas militares, duas da Polícia Militar e uma do Corpo de Bombeiros. (colaborou Marília Freitas/ Especial para O POVO)

Ideb

Segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2017 a rede pública estadual do Ceará está em 4º lugar em comparação com os demais estados. No Ensino Médio, dos 100 melhores resultados, 13 são escolas cearenses, sendo 11 profissionalizantes. O indicador bianual e os resultados do realizado em 2019 devem ser divulgados neste semestre.

 

Pesquisa censitária

O Spaece 2019 avaliou 97,1% dos alunos matriculados no 3º ano do Ensino Médio estadual. A  Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Crede) de Horizonte foi a única a aferir 100% dos estudantes nos municípios de sua responsabilidade (Beberibe, Cascavel, Chorozinho, Pacajús e Pindoretama).

 

O que é preciso fazer para continuar avançando

Avaliações educacionais para definição de políticas públicas são fundamentais. Há pouco mais de duas décadas, eram escassos os indicadores e as informações para nortear a tomada de decisões no Brasil. Os exames para mensurar índices educacionais têm permitido elaborar diagnósticos mais precisos. Porém, ser eficaz na execução do planejamento ainda é gargalo.

Para Renato Casagrande, especialista em gestão educacional e presidente do Instituto Casagrande, há informações, mas ainda é muito pouco. "Sem esses dados nós não conseguimos traçar um plano. Precisamos reunir todos os esforços e competência para, definitivamente, construir plano que mude o cenário na educação brasileira".

Quanto à dificuldade em relação à matemática, Casagrande afirma que há reflexo no Ensino Médio de traumas adquiridos ainda fundamental. "Universitários ingressam nos cursos de pedagogia e licenciaturas com aversão à disciplina. Principalmente, no curso de pedagogia, muitos discentes levam isso para sua profissão", analisa.

Conforme o professor, muitas vezes, a estratégia é inadequada para o ensino da matemática. "É preciso uma metodologia que converse com o dia a dia do aluno. Ou seja, o professor tem de trabalhar com métodos que envolvam e contextualizam a disciplina. Não pode ser uma matemática fria", aposta Casagrande.

Lotado no Departamento de Estatística e Matemática Aplicada da UFC, André Jalles Monteiro pontua que os resultados poderiam ser melhores. Para ele, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) consegue engajar mais os estudantes. "Imagine uma prova em que a pessoa vai fazer, mas não tem nenhum ganho. Para o estudante não será significativo." Situação e sentimento contrário percebe-se na aplicação do Spaece com estudantes do Ensino Fundamental.

"O estudante faz uma prova distraído, sem grande empenho. No Enem é diferente, pois ele está buscando uma série de coisas. Vaga numa instituição de Ensino Superior pública ou bolsa em uma privada, por exemplo", analisa Monteiro, especialista em avaliação educacional.

O docente da UFC credita a melhora dos indicadores aos investimentos, principalmente, em escolas em difícil situação econômica, onde estão as famílias mais carentes do estado. Ele aponta que em 2018, o Ceará foi o estado que mais progrediu no alcance educacionais para pessoas nessa situação.

Conforme levantamento disponibilizado pela Secretaria do Tesouro Nacional (Sincofi/STN), O Ceará seguiu na liderança de investimentos públicos no Brasil em 2018, atingindo 15,20% da Receita Corrente Líquida (RCL). Naquele mesmo ano, o Estado também foi o segundo do país em investimentos absolutos, atrás somente de São Paulo.

Para Monteiro, é primordial avançar na valorização do magistério. "Uma hora, não será possível fazer muita coisa, se esses profissionais não forem valorizados." André Jalles Monteiro afirma ser necessário professores e gestores de escolas interessados em revolucionar o ensino da matemática. "Já éramos para ter bons resultados na disciplina", opina.

Ricardo Henriques, economista e superintendente do Instituto Unibanco, frisa que o resultado de uma avaliação como o Spaece é essencial para uma gestão educacional assertiva, baseada em evidências. "O acompanhamento do fluxo e proficiência, isto é, se os estudantes estão aprendendo e no tempo adequado, aponta se as políticas educacionais estão no rumo certo ou se precisam de ajustes."

Para ele, o aprendizado do estudante deve ser o foco em todo o processo. "O modelo ideal é aquele no qual o aluno se desenvolve integralmente e está preparado para exercer suas escolhas, com segurança, conhecimento e competências sólidas e de qualidade", matura Ricardo Henriques. 

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