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O perfil das vítimas de homicídio em 8 dos 13 dias de motim da PM
Reportagem

O perfil das vítimas de homicídio em 8 dos 13 dias de motim da PM

Nos oito primeiros dias do motim, 220 assassinatos foram registrados no Ceará. Os números só registraram decréscimo com o início da operação de Garantia de Lei e Ordem
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Homem (94%), com idade entre 18 e 25 anos (46%), vítima de arma de fogo (95,4%) e morto na Região Metropolitana de Fortaleza (64,5%). Esse é o perfil das pessoas mortas durante a paralisação da Polícia Militar, entre o período de 19 a 26 de fevereiro, conforme os dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Ao todo, nesse período, foram registrados 220 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) no Estado.

Os números representam um aumento de cinco vezes se comparado com o mesmo período do ano passado. Entre 19 e 26 de fevereiro de 2019, foram 44 assassinatos. Só o período da paralisação dos policiais já supera todo o registrado em fevereiro de 2019: naquele mês haviam sido registrados 164 CVLIs.

Com a instauração da operação de Garantia de Lei e Ordem (GLO) no Estado, os assassinatos registraram decréscimo nos dias posteriores, mas os indicadores ainda não voltaram ao patamar registrado antes da deflagração do motim. Foi na sexta-feira, 21, dia de pico nos assassinatos, com 37 ocorrências, que passaram a operar no Estado os 2.500 militares enviados pelo Exército. Desde então, os assassinatos reduziram dia a dia, até chegarem a 18 na terça-feira, 25. No entanto, na quarta-feira, 26, voltou-se a registrar leve aumento: foram 22 assassinatos naquele dia. Até o início da paralisação, a média de assassinatos no Estado em 2020 era de oito ocorrências por dia. Do começo do ano até 18 de fevereiro, o Ceará apontava 427 CVLIs.

O aumento no número dos indicadores de criminalidade gera preocupação em órgãos governamentais e da sociedade civil. Isso levou a Defensoria Pública do Estado a criar uma central de denúncias que pretende mapear violências e violações durante o período. O "Observatório de Violências" conta com formulário na internet para realização das denúncias e também pode ser acionado pelo "Alô, Defensoria", através do número 129.

Além disso, a Rede Acolhe, projeto da Defensoria que promove assistência jurídica e psicossocial a vítimas e familiares da violência armada, está fazendo busca ativa por quem teve direitos violados no período. Conforme o coordenador da Rede Acolhe, Thiago de Holanda, nas demandas do projeto, foi observado aumento no número de acerto de contas de grupos rivais. Além dos homicídios, os relatos ainda apontam ocorrências de expulsões de famílias de suas casas e violências, possivelmente, cometidas por agentes do Estado.

Holanda destaca que familiares de vítimas de homicídio, geralmente, ficam "desamparadas", sendo ameaçadas e com restrições de deslocamento, por, por exemplo, serem proibidas por criminosos de trafegar em determinados territórios. Para ele, essas pessoas passam a enfrentar dificuldades, inclusive, na saúde, já que tendem a enfrentar problemas psiquiátricos, como depressão, abuso de álcool e drogas. Tudo isso gera a necessidade de "respostas urgentes". "Temos que pensar que, em virtude desse contexto, surgiram muitas vítimas, sobretudo, familiares e sobreviventes, que precisam ser atendidas pelo Estado, em seu sentido amplo, para que os problemas relacionados a esse problema não se aprofundem, como ameaças", diz.

 

SERVIÇO

Se você foi vítima de alguma violação de direito em decorrência da paralisação dos PMs, pode denunciar no Observatório de Violências através de formulário disponível na internet (acesse através do link: https://forms.gle/hXAKoLpjJ4RpUhTc8 ) ou do telefone 129

AÇÃO DO EXÉRCITO

Em nota, a 10ª Região Militar afirmou que o Exército reforça policiamento na Capital, destacando 24 bairros. Entre eles estão seis bairros da AIS 3. A nota ainda diz que a operação mantém ações em Crato e Juazeiro do Norte. Os agentes da Força Nacional devem permanecer no Estado até sexta, 6.

 

SERVIÇO

Rede Acolhe

Onde: av. Senador Virgílio Távora, 2184, Dionísio Torres

Contato: (85) 3101.3422

 

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