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A demissão de Moro da Justiça e o futuro do governo Bolsonaro
Reportagem

A demissão de Moro da Justiça e o futuro do governo Bolsonaro

OPINIÃO
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Há mais de um ano, escrevi, no início do Governo Bolsonaro, que havia dois pilares principais a lhe dar sustentação: Sergio Moro simbolizando o combate à corrupção e a força da Lava Jato e Paulo Guedes no âmbito do liberalismo econômico. Um desses alicerces ruiu. Doutro lado, há sinais evidentes de desgastes nas ideias e ações de Guedes. Há quem diga que Moro saiu atirando. Não foram tiros. Política e simbolicamente, foi disparado um míssil teleguiado na direção da Presidência. O ex-juiz e, hoje, ex-ministro, lembrou de sua entrada no governo com o compromisso de focar ações no combate à corrupção, ao crime organizado e ao crime violento. Mais do que isso, Moro destacou que, segundo as conversas com Bolsonaro, gozaria de carta branca para nomear e fazer a gestão de sua equipe.

Não foi assim. Se no dia de hoje houve a ruptura, o desgaste vinha há tempos, com Bolsonaro desautorizando Moro em várias ocasiões. Além disso, as pesquisas indicaram que o capital político de Moro era (e deve ser mais agora) maior que o do próprio presidente. Para manter apoiadores, nas redes e nas ruas, o bolsonarismo confrontou inimigos reais e imaginários, internos e externos, no campo oposto do espectro político e até aliados, além dos ataques cotidianos à imprensa.

Temendo um processo de impeachment, cujos pedidos já se encontram de posse de Maia, Bolsonaro resolveu conquistar apoio parlamentar. E onde? Justamente no Centrão, com figuras como, por exemplo, Roberto Jefferson. É patente que o discurso bolsonarista não se sustenta com a prática do que antes condenou. Negociar cargos para obter apoio político e, pior, querer mexer na estrutura da Polícia Federal foi, para Moro, o ato final de uma relação há tempos insustentável. O pronunciamento de Moro foi duríssimo. Jogou para o presidente, segundo juristas, cerca de sete crimes. Pedidos de renúncia e de impeachment se avolumam. Qual a base de defesa do governo hoje?

Os atores políticos, no Congresso e fora dele, lideranças no bojo da sociedade e os formadores de opinião, já começam a questionar se, com a pandemia, seria melhor ou não iniciar um processo de impeachment. A resposta está no entendimento da presença de Bolsonaro como um fator de liderança e segurança ou de tensão e insegurança política com graves consequências ao País.

Rodrigo Prando, professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

 

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