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Bolsonaro nega interferência na Polícia Federal e rebate Moro
Reportagem

Bolsonaro nega interferência na Polícia Federal e rebate Moro

Em pronunciamento oficial de 46 minutos, parte lido e outra parte de improviso, presidente rebateu versão de seu ex-ministro da Justiça.
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BOLSONARO dá três dias para Guedes apresentar nova proposta de Renda Brasil (Foto: MATEUS BONOMI/AE)
Foto: MATEUS BONOMI/AE BOLSONARO dá três dias para Guedes apresentar nova proposta de Renda Brasil

O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento na tarde de ontem, no Palácio do Planalto, para rebater as acusações feitas pelo ex-ministro Sergio Moro, que anunciou sua demissão do Ministério da Justiça mais cedo. Acompanhado de seus ministros, Bolsonaro falou durante 46 minutos e negou que tenha pedido para o então ministro interferir em investigações da Polícia Federal (PF).

"Não são verdadeiras as insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica, sobre o Adélio (Bispo), o porteiro, e meu filho 04 (Jair Renan)", afirmou o presidente, em uma referência às investigações sobre a tentativa de assassinato contra ele na campanha eleitoral de 2018 e às investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, também em 2018.

"Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo. Será que é interferir na PF quase que exigir, implorar [a] Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle (Franco, vereadora assassinada) do que seu chefe supremo? Cobrei muito dele isso daí, (mas) não interferi", afirmou. O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome indicado por Sergio Moro, foi exonerado do cargo nesta sexta-feira.

Jair Bolsonaro disse, em seu pronunciamento, que, como presidente, tem o direito de se dirigir diretamente a outros funcionários do governo federal, inclusive subordinados de seus ministros. "O dia que eu tiver que me submeter a qualquer funcionário meu, eu deixarei de ser presidente da República". ", afirmou.

De acordo com Bolsonaro, o delegado Maurício Valeixo estaria cansado e a troca no comando da PF foi conversada com Sergio Moro. "Conversando ontem com o Moro, entre muitas coisas, até que chegou na questão Valeixo, e eu falei que está na hora de botar um ponto final nisso.... Então, falei que no dia de hoje o Diário Oficial publicaria a exoneração do senhor Valeixo. E pelo que tudo indicava, uma exoneração a pedido."

Em publicação no Twitter, após o pronunciamento, o agora ex-ministro Sergio Moro voltou a afirmar que o ex-diretor-geral da PF não pediu demissão do cargo. "De fato, o diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído. Mas, ontem, não houve qualquer pedido de demissão, nem o decreto de exoneração passou por mim ou me foi informado", postou.

No final da tarde, o Diário Oficial da União também trouxe, em edição extra, uma nova publicação da exoneração de Maurício Valeixo da PF, desta vez sem a assinatura eletrônica de Sergio Moro, que constava na primeira versão do decreto.

Bolsonaro disse ainda que Sergio Moro condicionou a demissão de Maurício Valeixo a uma indicação para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Já que ele falou em algumas particularidades, mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse pra mim: você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. Outra coisa, é desmoralizante um presidente ouvir isso".

Sobre esse trecho, no Twitter, o ex-ministro escreveu: "A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF".

A troca de acusações 

O QUE DISSE MORO

RELATÓRIO DE INTELIGÊNCIA
Sergio Moro afirmou que o presidente Bolsonaro, desde o ano passado, pede a troca do comando por alguém a quem “pudesse ligar para colher informações" sobre investigações. “O problema não é a troca, mas é permitir que seja feita a interferência política no âmbito da Polícia Federal”. Afirmou ainda que Bolsonaro o informou que tinha “preocupações com investigações” feitas pelo órgão. “O presidente queria alguém que ele pudesse ligar, colher informações, relatório de inteligência. Seja o diretor, seja o superintendente".

DEMISSÕES SEM CAUSA
Moro, revelou que o presidente Jair Bolsonaro estaria interferindo politicamente na indicação nos cargos da Polícia Federal e outros órgãos de segurança. Durante pronunciamento, Moro declarou que as demissões não estariam acontecendo com base em escolhas técnicas, mas sim de proximidade. “O presidente passou a insistir na troca do supervisor geral, mas eu precisava de uma causa, e uma causa relacionada a uma insuficiência de desempenho, pois era grave, mas pelo que eu vi, é um trabalho bem feito, várias dessas operação importantes, foram relevantes. O problema nas conversas com o presidente era a troca de outros superintendentes. Novamente o do Rio de Janeiro, outros superintendentes da PF de Pernambuco, sem que fosse me apresentado uma razão” afirmou.

SURPRESA E OFENSA
O agora ex-ministro da Justiça disse ter achado o ato de exoneração ofensivo. "Dialoguei com o presidente, busquei postergar a decisão, sinalizando que poderia concordar com isso no futuro. Num primeiro momento, pensei que o nome poderia ser alterado, mas cada vez mais me veio à cabeça de que isso seria um grande equívoco. Falei então para substituirmos o Valeixo por alguém que representasse a continuidade do trabalho, mas não obtive resposta. A exoneração não foi assinada por mim. Fiquei sabendo na madrugada, pelo Diário Oficial. O presidente não apresentou um pedido formal. Sinceramente, fui surpreendido e acho isso ofensivo", acrescentou.

AUTONOMIA DA PF
Moro citou os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, alvos da Operação Lava Jato e principais adversários políticos do presidente Jair Bolsonaro, por terem garantido a autonomia da Polícia Federal em suas gestões. "Imagina se, durante a própria Lava Jato, o ministro, diretor-geral, a então presidente Dilma (Rousseff), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficassem ligando para a Superintendência de Curitiba para colher informações?", comparou. "É certo que o governo da época (do PT) tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção que aconteceram naquela época. Mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esse trabalho", disse Moro no pronunciamento.

O QUE DISSE BOLSONARO

CHORO E MENTIRA
“Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela”, disse Bolsonaro inicialmente. O presidente começou lembrando de quando conhece Sergio Moro, no dia 30 de março de 2017, e quando ex-ministro o ignorou em uma lanchonete. Ao final, Bolsonaro completou: “Confesso que fiquei triste, porque ele era um ídolo para mim. Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo”. Em reclamação sobre a falta de informações da Polícia Federal por parte de Moro, Bolsonaro declarou que sempre “abriu o coração” para o ex-ministro, mas que “duvida” que ele tenha feito o mesmo movimento contrário.

AQUECEDOR NA PISCINA
O presidente começou a relembrar de quando sofreu uma tentativa de assassinato na campanha eleitoral, e, ao se defender das alegações de que ele tinha tentado interferir na Polícia Federal, o presidente quis proteger seu papel de zelo com a população brasileira: “Desliguei o aquecedor da piscina olímpica da Alvorada. Modificamos o cardápio… mas isso não tem nada a ver. É só pra lembrar que eu tenho preocupação com a coisa pública.”

INTERFERÊNCIA NA PF
Bolsonaro negou solicitar detalhes das investigações da Polícia Federal. “Eu nunca pedi a ele o andamento de qualquer processo. Até porque a inteligência, com ele, perdeu espaço na Justiça. Quase que implorando informações. E, assim, eu sempre cobrei informações dos demais órgãos oficiais do governo, como a Abin, que tem à frente um delegado da Polícia Federal — afirmou o presidente.

MARIELLE FRANCO
O presidente citou o nome de Marielle Franco ao dizer que a PF estava “mais preocupada” em investigar a morte da ativista do que a facada da qual ele foi vítima. "Será que é interferir na Polícia Federal quase que exigir, implorar a Sergio Moro, quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe. (Pessoas) de bem no Brasil querem saber", disse.

FILHO 04
Justificando a falta de apoio do ministro Moro e da Polícia Federal no tratamento dos casos envolvendo sua família, o presidente, então, optou por a vida de seu filho mais novo, Renan Bolsonaro. “O meu filho… de 20, 21 anos de idade, quando no caso do porteiro, no caso Adélio, que os ex-policiais teriam ir falar comigo, apareceu que meu filho, o 04, teria namorado a filha desse ex-sargento. Chamei meu filho: ‘abre o jogo’. ‘Pai, eu saí com metade do condomínio, nem lembro dessa menina.”

INDICAÇÃO PARA STF
O presidente disse que o ex-ministro só aceitava a troca do comandante-geral da Polícia Federal em novembro, depois de indicar Moro à vaga que se abrirá ao Supremo Tribunal Federal (STF). "Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro disse para mim: 'Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal'. Me desculpe, mas, não é por aí”, declarou Bolsonar

 

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