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Sergio Moro cai do ministério, mas reage com ataques a Bolsonaro
Reportagem

Sergio Moro cai do ministério, mas reage com ataques a Bolsonaro

Ex-ministro iniciou acusações contra Bolsonaro na manhã de ontem, quando anunciou a demissão, e depois usou o Twitter para questionar o presidente em pontos do seu pronunciamento
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Ministro da Justiça Sérgio Moro anunciou saída do governo nesta sexcta-feira, 24/04 (Foto: Fábio Lima)
Foto: Fábio Lima Ministro da Justiça Sérgio Moro anunciou saída do governo nesta sexcta-feira, 24/04

Recebido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como superministro, mas desautorizado progressivamente durante os 512 dias dos quais atuou como colaborador do governo, o agora ex-titular da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro não apenas se demitiu como deixou uma bomba política e jurídica a ser desarmada pelo chefe do Executivo. A gota d’água foi a troca na direção-geral da Polícia Federal (PF), a contragosto dele. A instituição é subordinada à pasta que Moro comandava, e ele havia recebido de Bolsonaro carta branca para a condução da área. Este, inclusive, foi um dos pontos ressaltados por Moro num dia repleto de manifestações de forte conteúdo, iniciado às 11 horas de ontem, quando anunciou a demissão.

Ele acusou abertamente o presidente de trabalhar para aparelhar a PF. E destacou ter dito a Bolsonaro que a saída de Maurício Valeixo da direção-geral do órgão seria interferência política. “Ele disse que seria mesmo." Porém, o ápice dos movimentos do ex-ministro só ocorreria durante a noite de ontem, durante o Jornal Nacional, da TV Globo.

Inquirido a apresentar provas pela reportagem da emissora, o ministro divulgou conversas entre ele e o “Presidente Novíssimo”, como salvou o mais atual número telefônico de Bolsonaro. Na troca de mensagens, o capitão compartilha com ele uma matéria do site O Antagonista que noticiava a PF “na cola” de “12 deputados bolsonaristas.” “Mais um motivo para a troca”, escreveu o presidente.

Ele ainda exporia diálogos com a afilhada de casamento, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), no qual a parlamentar pediu que ele aceitasse a troca na Polícia e, com isso, garantisse vaga no Supremo. “Não estou à venda”, ele devolveu, segundo o JN. Em resposta à acusação do presidente em pronunciamento, Moro alegou no Twitter que não resistiria à demissão de Valeixo se seu objetivo fosse exclusivamente acessar o STF via indicação de Bolsonaro.

O cientista político e coordenador de políticas públicas do Livres, Magno Karl, analisa que o ex-magistrado sai forte do episódio, e o presidente chamuscado. Por mais que eventualmente renegue esta tarefa, prossegue o observador, Moro deverá ser fio condutor do processo de desgaste do presidente, com consequências ainda indefinidas. “Sabe do peso de suas palavras, sabe do seu papel e sabia o que estava fazendo hoje. É fácil presumir que Moro tem mais munição, tem mais a apresentar.”

Num exercício de projeção, Karl também entende ser fácil visualizar a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o presidente. Para ele, fora do Governo, o ministro se consolida como um ativo político e eleitoral, caso queira disputar a Presidência em 2022. Concorda Manoel Galdino, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor da organização Transparência Brasil. Ele lembra de frase de Moro que, ao largar a magistratura, disse estar cansado de “tomar bola nas costas”, o que na visão do especialista continuou ocorrendo na política.

"Ele teve um aprendizado importante, se quer mesmo continuar na carreira política. E ele saiu do governo Bolsonaro antes do provável aumento do número de, por exemplo, provável aumento de mortes causado pela pandemia de Covid-19. Neste sentido ele ajuda a preservar sua imagem", diz Caetano. E emenda: "Fica como figura importante na direita brasileira, a disputar espaço com outras pessoas de direita.” Se for este o caso, completa o cientista, ele terá de enfrentar outro desafio, o de entender que disputar votos é muito diferente de atuar como ministro.

Cientista político pela UFC, Cleyton Monte interpreta que as cartadas de Moro contra Bolsonaro deixam ainda mais claras as pretensões políticas dele. “Foi muito claro pra mim quando ele disse que quer preservar a biografia dele, esse recado de preservar é para também eventuais voos ou outras possibilidade que possam vir a ser colocadas diante do agora ex-ministro.”

 

 

 

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