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Ceará registra 2,7 mil novos casos; dados estavam retidos
Reportagem

Ceará registra 2,7 mil novos casos; dados estavam retidos

A Secretaria da Saúde do Estado explica que o salto de casos em 24 horas ocorreu porque não conseguia captar dados de exames já analisados. O Ministério da Saúde alterou um dos sistemas de alimentação de informações
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NA SEMANA epidemiológica 7 (14 a 20 de fevereiro) 122 óbitos foram registrados no Ceará (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves NA SEMANA epidemiológica 7 (14 a 20 de fevereiro) 122 óbitos foram registrados no Ceará

Em 24 horas, o Ceará registrou 2.763 novos casos de pacientes com a Covid-19, somando 11.142 confirmações laboratoriais até ontem, 4, conforme atualização da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), às 21h18min. A pasta explicou que o salto no número ocorreu em razão de mudança no sistema de alimentação de dados do Ministério da Saúde. Por isso, a secretaria não conseguia captar dados de exames já analisados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para inserção no Integrasus. Positividade das amostras (proporção de diagnósticos positivos em relação ao número de exames realizados) e quantidade de óbitos indicam que esta semana deve ser crítica, conforme especialistas.

Com mais 55 mortes registradas na última atualização, o Estado soma 732 óbitos em decorrência do novo coronavírus. É o segundo maior número de mortes em 24 horas no Ceará. A taxa de letalidade (quantidade de pessoas que morreram em relação à quantidade de infectados) está em 6,6%. Os novos casos e óbitos são registrados de acordo com a data de confirmação, mediante o resultado dos exames.

"O Ministério (da Saúde) fez uma alteração em um dos sistemas que a gente usa para alimentar esses dados do Integrasus. Já tinha sido analisado pelo Lacen e já tinha saído o resultado. Estávamos trabalhando para conseguir puxar esses dados para o Integrasus", explica Magda Moura de Almeida, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa. Ela diz que houve uma diminuição no ritmo de contágio mas que, na última semana, houve "um aumento importante de casos e óbitos". "A gente está em um ponto de inflexão importante, que é um ponto em que a curva pode ser achatada ou aumentar exponencialmente. Esse ponto sempre pode ocorrer, mas tivemos o número de óbitos, que é um marcador importante. Isso chama a atenção de que possa aumentar o número de casos", analisa.

Para Ricristhi Gonçalves, coordenadora de Vigilância Epidemiológica, apesar de o salto nos casos em um dia ser explicado pelo problema no sistema de alimentação de dados, a curva de disseminação (número de pessoas infectadas em um período de tempo) da doença ainda está evoluindo. "Essa semana vai ser bem crítica. Vários indicadores revelam isso: quantidade de óbitos, positividade das amostras. A positividade tem crescido muito. São indicadores importantes", projeta. Ela explica como saber quando a curva para de subir: "quando a gente perceber uma estabilidade no incremento de casos e óbitos de um dia para o outro ao longo de vários dias", detalha.

Para o infectologista Anastácio Queiroz, professor da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Ceará está perto de chegar ao ápice da quantidade de casos confirmados da Covid-19. "Se não estamos no pico ainda, estamos perto dele. Não vai demorar muito ainda a chegarmos nele, não tenho dúvida. Mas a subnotificação ainda é muito grande", avalia.

Fortaleza concentra o maior número de confirmações laboratoriais e mortes: 8.274 e 567, respectivamente. Conforme boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) publicado ontem, Vicente Pinzon se tornou o bairro de Fortaleza com mais óbitos: 21. Outros 15 bairros pelo menos triplicaram o número de óbitos no período de uma semana.

 

Cerca de 6% das vítimas de Covid-19 morreram em casa no Ceará

No Estado, 42 pessoas morreram em casa em decorrência da Covid-19, de acordo com dados do IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), disponibilizados às 17h48min desta segunda-feira, 4. O valor é o equivalente a 5,9% dos 712 óbitos que eram registrados no Ceará que até o horário da divulgação. À noite, os números foram atualizados outras duas vezes, subindo o total de vítimas para 732. Outros 180 casos fatais ainda estavam sob investigação.

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De acordo com a Sesa, entram nessa estatística as pessoas que não buscam nenhum tipo de atendimento, assim como as que procuram em algum momento uma unidade de saúde, mas voltam para casa por não ter uma condição grave. O POVO solicitou à secretaria detalhes sobre o sexo, idade e local de morte dos pacientes, mas não teve o retorno até a publicação desta matéria.

Ainda segundo informações da Secretaria, é o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) que faz a coleta de Swab nesses casos. "Em Fortaleza, a população conta com o SVO Móvel, que faz a coleta do exame no domicílio. Na Região Metropolitana de Fortaleza e interior do Ceará, o serviço funerário faz o transporte do corpo para a unidade do SVO, onde é feita a coleta do exame para identificação de Covid-19", apontou a Pasta.

O maior número de mortes da doença, no entanto, acontece em unidades hospitalares da rede pública, que concentra mais de 73,4% do número de casos. Entre os equipamentos privados, 143 mortes foram registradas, valor equivalente a 20% do total.

A rede de leitos especiais da Capital, que concentra o número de casos da doença, está próxima da exaustão. Em coletiva de imprensa na última sexta-feira, 1°, o governador Camilo Santana anunciou a entrega de mais 100 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para esta semana.

Os executivos municipais e estadual também se preocupam com a disponibilidade de respiradores mecânicos, essencial para o tratamento adequado da Covid-19. Conjuntamente, o Estado e a Prefeitura de Fortaleza adquiriram mais 94 equipamentos. Nesse domingo, 3, o Ceará recebeu 30 respiradores enviados pelo Ministério da Saúde para equipar leitos de UTIs públicas do Estado. (Colaborou Gabriela Custódio)

 

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