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Capital pode ter 8,6 mil novos casos até o dia 29
Reportagem

Capital pode ter 8,6 mil novos casos até o dia 29

Estudo mostra, entre outros pontos, as velocidades de disseminação e óbitos em 14 dias. Isolamento social tem impacto direto no índice
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PESQUISA EVIDENCIA que o lockdown reduziu a disseminação do vírus em Fortaleza, evitando colapso do sistema de saúde (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO PESQUISA EVIDENCIA que o lockdown reduziu a disseminação do vírus em Fortaleza, evitando colapso do sistema de saúde

Fortaleza pode ter mais de oito mil novos casos de Covid-19 até 29 de junho, segundo pesquisa que vem sendo desenvolvida por professores do Departamento de Estatística e Matemática Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC) desde o início da pandemia. Esse número será confirmado se a velocidade de disseminação do novo coronavírus registrada pelo estudo na manhã de ontem, 16, permanecer constante até lá.

O índice estava em 28,4% e considera as informações da véspera. "Trata-se da relação entre o total de casos no dia atual e total de casos 14 dias atrás, subtrai-se então de 1 e transforma-se em percentual. Essas velocidades são acompanhadas diariamente, e utilizamos sempre o final de cada semana para comparação", explica Júlio Francisco Barros Neto, que realiza o projeto junto com os professores Juvêncio Santos Nobre e Luís Gustavo B. Pinho.

"(No dia 15), Fortaleza tinha 30.948 casos. Se mantiver constante os 28% por 14 dias, teremos, no dia 29, por volta de 39.613. Ou seja, 8.665 novos casos. Quantos deles exigirão Enfermarias e UTIs? Quantos serão assintomáticos? Quantos serão sintomáticos mas se tratarão em casa com isolamento por 14 dias?", complementa. As semanas utilizadas para comparação são contadas a partir do 50º caso em cada local, o que permite estabelecer paralelos da pandemia entre cidades, estados e países. "Pressupõe-se que os casos iniciais são bastante aleatórios, e depois é que efetivamente começa a disseminação das pandemias", explica.

Um elemento que interfere diretamente na velocidade de disseminação é o isolamento social. "Antes da decretação de lockdown, ou distanciamento social rígido, Fortaleza apresentava, na 7ª semana, velocidade de disseminação de 155% e de óbitos de 227% a cada 14 dias, mostrando que era inevitável a tomada de medidas mais rígidas objetivando reduzir tais velocidades, mas, sobretudo, evitando que mais perdas ocorressem em função do sistema de saúde ter atingido o colapso total." Essa fase, na Capital, teve início no dia 8 de maio.

O professor cita também uma mudança percebida após a confirmação da flexibilização do distanciamento social pelo Governo do Estado no dia 28 de maio. "De lá para cá, observamos claramente que as pessoas já começaram a sair na rua, isso foi bem nítido, e que aquela taxa que vinha reduzindo efetivamente em uma velocidade muito boa passou a não reduzir significativamente. Passou a ser constante em 40%, que é muito alta."

A partir do último dia 13, o índice tem se mantido em torno de 30%, mas ele ressalta que ainda se deve esperar alguns dias para saber se a queda é uma tendência. Como "exemplos a não serem seguidos" na retomada da economia, Júlio Barros aponta Curitiba e Porto Alegre, que reabriram com índice entre 20% e 30% de velocidade de disseminação e, nas últimas duas semanas, alcançaram 76,1% e 87,9%, respectivamente. "Vê-se que em duas a três semanas a velocidade da trajetória muda rapidamente."

Um fator que pode levar à diminuição da velocidade é a chamada imunidade de rebanho, quando uma porcentagem da população já entrou em contato com um vírus, alcança a imunidade e diminui a circulação do patógeno. "Mas isso ocorre quanto se atinge percentuais elevados contágio. Estimam entre 60% a 70% da população. Isso é aplicado também em vacinação", pondera.

O acompanhamento realizado pelos professores também observa questões como a velocidade semanal de óbitos a cada 14 dias e a evolução temporal das taxas de incidência e de óbito, entre outras, além de acompanhar os números de todo o Brasil e dos outros países. A iniciativa utiliza como fontes nacionais o Ministério da Saúde, a Sesa, a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) e a plataforma Wesley Cota - Covid19BR. Já as fontes internacionais são Worldometer, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Johns Hopkins University.

Ao analisar a duração da pandemia no Brasil e em outros países, Júlio Barros aponta que ela tem se prolongando mais no País. "Enquanto na Europa, entre a 8ª e 9ª semana após o 50º caso, as velocidades de disseminação a cada 14 dias já atingiam valores abaixo dos 15%, no Brasil e nos estados e capitais tal velocidade ainda está na faixa de, no mínimo, 30% passados quase mais de 12 semanas do início da pandemia."

Serviço

Confira dados da pesquisa.

 

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