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Comércio do Ceará registra 2ª maior perda entre os estados na pandemia
Reportagem

Comércio do Ceará registra 2ª maior perda entre os estados na pandemia

Queda nas vendas em março foi de 11,7% e em abril chegou a 37,2%. Os índices do comércio estadual estão entre os piores do País. A CNC prevê recuo histórico de 10,1% no varejo nacional e prejuízo de R$ 200 bilhões em 12 semanas de pandemia
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SHOPPINGS já começam a ter lojas com cancelamento de contrato (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE SHOPPINGS já começam a ter lojas com cancelamento de contrato

A pesquisa mais atualizada sobre a situação do comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela o impacto da crise no comércio cearense: a segunda maior queda do País no mês de abril e o pior resultado desde o início da série histórica. O recuo foi de 37,2% no volume de vendas no mês em comparação a igual período do ano passado.

Somente janeiro se salvou. Houve crescimento nas vendas no comércio varejista ampliado, de 2,7%. Nos meses seguintes, foram quedas de 2% em fevereiro e 11,7% em março. O resultado de abril pode ser explicado por ser o primeiro mês completo de isolamento social. O Ceará ainda apresenta a quarta maior retração do País no resultado acumulado das vendas em 2020, de 11,8%.

Dentre os destaques negativos está tecidos, vestuário e calçados (-87,9%). O único resultado positivo foi em hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2%). No varejo ampliado, as atividades de veículos, motos, partes e peças e material de construção caíram 42,4% e 48,2%, respectivamente.

De acordo com o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, a crise para o comércio é comparável a um "incêndio" de grandes proporções e que somente será possível ter real noção das perdas após o "rescaldo". Ele acrescenta que a situação do varejo cearense antes da crise já era preocupante, com empresários com problemas nas contas pelo desempenho fraco da economia, principalmente pelo desaquecimento do consumo das famílias.

Freitas ressalta que, mesmo com a reabertura, já era esperada uma retomada lenta. O que vem preocupando os empresários atualmente é a demora e a burocracia em torno de recursos do Governo Federal liberados em forma de financiamentos. Agora, o pleito da FCDL-CE é por um Refis para os tributos estaduais. "O problema é que as empresas não têm acesso aos créditos oferecidos pelo governo. O momento é de emergência e os empresários não estão com o propósito de enganar ninguém. O Refis seria mais que oportuno".

No quadro nacional, a situação não é menos preocupante. De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo deverá ter 10,1% de retração neste ano. "Esse cenário contempla a flexibilização contínua e gradual da quarentena. Caso a pandemia reacelere, as perdas serão maiores", alertou o economista Fábio Bentes, responsável pelo estudo.

O volume de vendas no varejo recuou 16,8% em abril, em relação a março, registrando a maior retração mensal do indicador em toda a série histórica da pesquisa - iniciada em 2000 - e igualando-se ao nível observado em janeiro de 2010.

De acordo com a CNC, os comerciantes brasileiros já podem afirmar que perderam um mês inteiro de vendas com o novo coronavírus. Segundo cálculos da CNC, em 12 semanas de pandemia (de 15/3 a 6/6), os prejuízos do setor com a crise alcançaram impressionantes R$ 200,71 bilhões. O valor é equivalente à média mensal de faturamento do varejo antes do surto de Covid-19.

O economista e diretor técnico da Fecomércio-CE, Alex Araújo, afirma que o comércio não tem muito o que comemorar olhando no longo prazo, pois a retomada corre riscos, visto que tudo depende do nível de cumprimento de medidas de distanciamento social.

"Com as comemorações do Dia dos Namorados, o segmento de perfumaria, por exemplo, teve uma movimentação expressiva, mas ainda não sabemos se isso é sustentável. Sabemos que existia uma pressão pela retomada econômica, mas, por enquanto, as informações são contraditórias, alguns segmentos têm mostrado rendimento além do esperado", complementa Alex. 

 

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RETOMADA DA CONFIANÇA

As prévias dos índices de confiança dos empresários e dos consumidores, medidas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), tiveram altas em junho, na comparação com os resultados consolidados de maio. A confiança dos empresários no futuro cresceu 20,1 pontos, chegando a 83,1 pontos, enquanto a análise da situação atual teve alta de 7,2 pontos. Entre os setores pesquisados, a confiança aumentou 17,2% no comércio, 17% na indústria, 10,2% nos serviços e 5,6% na construção. Já o Índice de Confiança do Consumidor subiu 8,9 pontos e chegou a 71 pontos, de acordo com a prévia de junho. A prévia de junho confirma a recuperação da confiança perdida no bimestre de março e abril. 

PORTAS FECHADAS

Algumas operações dos shopping centers continuam fechadas por causa do decreto estadual. Atualmente, estamos na primeira fase em Fortaleza, que autoriza a reabertura do comércio. Mas, lojas e quiosques de alimentação e cafés de consumo no local não poderão reabrir até a fase 2. Outros serviços, como academia, e entretenimento, além de serviços de educação, abrem apenas na fase 4.

Impacto da crise

 Com os decretos de quarentena, os shoppings de Fortaleza passaram mais de dois meses fechados até reabrirem na semana passada. O POVO fez um levantamento sobre quantas operações (lojas e quiosques) tiveram de fechar as portas e romper contrato por consequência da pandemia. Veja as respostas:

RIOMAR

No RioMar Fortaleza, contamos com mais de 400 operações entre lojas e quiosques. Destes, sete operações rescindiram contrato de março até agora. No RioMar Kennedy, mais de 160 operações entre lojas e quiosques. Destes, oito rescindiram contrato. "Estamos com o desafio de conduzir a retomada das atividades econômicas nos shoppings. Neste momento, nossos esforços são para garantir todas as medidas de segurança necessárias para preservar a saúde de todos: lojistas, colaboradores e clientes. Estamos mantendo um diálogo constante com nossos parceiros lojistas para que juntos possamos prosseguir", diz Gian Franco, superintendente regional Ceará do Grupo JCPM.

ALDEOTA

Segundo o superintende do Shopping Aldeota, Oscar Cesarino, houve uma redução de 2% em relação à quantidade de operações e Área Bruta Locável (ABL). "A praça de alimentação e lazer (ainda fechados), compromete fundamentalmente a frequência de público e a sinergia em outras operações comerciais agregando a venda diretamente, porém atenuado o nosso empreendimento por ser bem ancorado comparado ao nosso ABL."

Até a semana passada, o shopping teve o impacto positivo do calendário comercial "Dia dos Namorados", diz o gestor. "Entretanto é indiscutível que os patamares de venda e de frequência de clientes já demonstram pouca impulsão de consumo, o que nos faz presumir que afete a média das vendas em no mínimo de 20%."

GRAND SHOPPING MESSEJANA

"O Grand Shopping retomou as atividades das lojas e quiosques, seguindo o plano de retomada do Governo do Estado. Apenas duas operações não retornaram por motivos operacionais."

AEROPORTO DE FORTALEZA

De acordo com a Fraport, que administra o Aeroporto de Fortaleza, existem 63 negócios dentre serviços, varejo e alimentação. Destes, 27 estão em funcionamento e 36 fechados. Na medida em que o decreto libere, os demais quiosques e praça de alimentação devem reabrir.

NÃO RESPONDERAM

O Shopping Parangaba, Shopping Benfica e Shopping Del Paseo não retornaram à solicitação até o fechamento desta edição. Já a Ancar Ivanhoe disse que o levantamento geral de dados é feito pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce).

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