Adotar, na condução dos negócios, práticas sustentáveis e socialmente responsáveis que tragam para o centro das operações não apenas o retorno financeiro, mas os impactos que a empresa deixa na sociedade. Bobagem? Saiba que esses têm sido critérios cada vez mais observados pelos investidores, principalmente, os estrangeiros, na hora de decidir onde aportar recursos. É o chamado Environmental, Social and Governance (ESG) que, em português, significa Ambiental, Social e Governança (ASG) e são os três fatores que medem sustentabilidade e impacto social.

Para se ter uma ideia, recentemente, a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, com US$ 6,8 trilhões sob gestão, aplicou punições, que vão desde a redução de investimentos a votos contrários na temporada de assembleias deste ano, em 53 empresas, por falhas no progresso com as questões climáticas. Dentre estas, a petroleira norte-americana ExxonMobil e a montadora sueca Volvo. Também colocou outras 191 companhias em observação.

E, em junho, um grupo de investidores internacionais, responsáveis por cerca de R$ 20 trilhões em ativos, enviou uma carta aberta às embaixadas brasileiras de oito países, manifestando sua preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil.

Há também uma movimentação no mercado brasileiro. A XP Investimentos, desde que criou, em junho, uma diretoria focada em ações e ativos socioambientais e de governança, já lançou três novos produtos com essa pegada ESG: um fundo previdenciário, um fundo multimercado e um fundo de fundos (FoF). Este último servirá para fomentar novos investimentos em empresas brasileiras enquadradas no conceito ESG. A companhia se comprometeu em destinar R$ 100 milhões.

Não há dados consolidados específicos sobre o mercado de investimentos ESG no Brasil. Mas considerando a evolução das ações sustentáveis/governança é possível observar a tendência de crescimento. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de junho, mostram que este tipo de ação somou R$ 543,4 milhões, em patrimônio. Alta de 29% em relação a igual
mês de 2019.

A Anbima também lançou um guia ESG de boas práticas para as instituições do mercado que querem utilizar os critérios ambientais, sociais e de governança nas análises de investimentos.

Para Daniel Demétrio, sócio da cearense M7 Investimentos, vinculada à XP Investimentos, embora o Brasil ainda tenha um longo caminho pela frente quando se trata da preocupação com o lado socioambiental das empresas, principalmente, se comparado a outros países da Europa, este é um caminho sem volta. E que tende a ser acelerado com a pandemia.

"Este viés de sustentabilidade ambiental e social das empresas que já era uma tendência muito forte antes, agora, vira uma condição", diz. Ele explica que tem crescido no Ceará o interesse do investidor tanto em saber se as empresas listadas na B3 possuem boas práticas, como por fundos específicos ou mesmo na aposta em startups que já nasçam com este propósito de transformar o mundo.

 

Entenda

Os investimentos ESG/ASG?

São os que incorporam alguma questão, seja ambiental, social ou de governança, em sua análise de investimento e leva em consideração a sustentabilidade de longo prazo. São considerados investimentos ESG (ASG, em português): responsável, sustentável, de impacto social, ético, títulos verdes (conhecidos lá fora como green bonds), investimentos na área de infraestrutura, entre outros. 

Fatores considerados na análise ESG

Ambiental:

Uso de recursos naturais

Emissão de carbono

Eficiência energética

Poluição

Tecnologia limpa

Social:

Políticas e relações de trabalho

Política de inclusão e diversidade

Treinamento da força de trabalho

Direitos humanos

Privacidade e segurança de dados

Governança:

Independência do Conselho

Diversidade na composição do Conselho de Administração

Remuneração do Conselho
de Administração

Ética

Transparência

Projeções:

Estudo feito pelo Bank of America Merrill Lynch estimou, em uma análise conservadora, que essa nova geração de investidores alocará entre US$ 15 e US$ 20 trilhões em fundos com políticas ESG nas próximas décadas.

Fonte: Guia ASG da Anbima