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Ceará registra 27 mortes maternas por Covid-19
Reportagem

Ceará registra 27 mortes maternas por Covid-19

Até 1º de agosto, foram 135 óbitos no Brasil. No Ceará, 1.109 gestantes e 102 puérperas foram diagnosticadas com Covid-19, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa)
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Consultas de pré-natal foram prejudicadas pela pandemia (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Consultas de pré-natal foram prejudicadas pela pandemia

Entre os diversos aprendizados adquiridos ao longo dos meses da pandemia de Covid-19 está a atenção necessária a gestantes e puérperas. Se inicialmente não havia alertas específicos, hoje já se sabe que elas têm maior risco de complicações da doença. No Ceará já ocorreram 27 mortes maternas, segundo nota técnica divulgada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) no dia 3 de agosto. Atualização do IntegraSus, plataforma da Secretaria, às 17h18min desta quarta-feira, 12, detalha que 11 desses óbitos foram em gestantes e 16, em puérperas.

Essas mortes maternas ocorreram por todo o Estado. A Capital contabiliza 12 óbitos, enquanto os outros 15 ocorreram em três superintendências regionais de saúde — Sobral (4), Sertão Central (3) e Cariri (4). Ainda segundo informações da Sesa disponibilizadas ao O POVO na tarde da última terça-feira, 11, ao todo, 1.109 gestantes e 102 puérperas foram diagnosticadas com a doença no Estado.

Um boletim epidemiológico do Ministério da Saúde que considera informações até o dia 1º de agosto traz um número ainda maior em relação às gestantes. De acordo com o documento, foram 13 óbitos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19 em gestantes no Ceará. No contexto nacional, o Ministério aponta um total de 135 óbitos de gestantes pela enfermidade e que 2.256 das gestantes hospitalizadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) testaram positivo para Covid-19.

"Precisamos deixar claro que morte materna, historicamente, é um indicador de desigualdade social e de falta de acesso ou de assistência adequada", reforça Liduína Rocha, presidente da Associação Cearense de Ginecologia e Obstetrícia (Socego) e do Comitê de Prevenção à Morte Materna, Fetal e Infantil, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Integrante do Coletivo Rebento — Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS, a obstetra aponta na pandemia esses fatores também estão presentes.

Desde junho, o Centro de Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) passou a considerar a gestação como um fator de risco para quadros graves da Covid-19. E o que pesquisadores têm observado é que a maior parte dos óbitos maternos do mundo estão concentrados no Brasil.

Publicado na revista médica International Journal of Gynecology and Obstetrics no dia 9 de julho, o estudo "A tragédia da Covid-19 no Brasil" apontou que o País concentrava 77% das mortes de gestantes e puérperas em todo o mundo. Com dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe) sobre os óbitos maternos entre 26 de fevereiro e 18 de junho, a pesquisa mostrou que o Brasil contabilizava até então 124 das 160 ocorrências mundiais.

Na própria gravidez pode haver alterações imunológicas que podem contribuir para um desenvolvimento "não tão favorável" da doença, principalmente em mulheres com comorbidades. Porém, a questão é quando o atendimento é realizado, segundo uma das autoras do estudo, a obstetra Carla Andreucci Polido, professora do departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). "Se você faz atendimento no momento oportuno, ela tem todas as chances de se recuperar."

A publicação também aponta que 28% das mulheres que morreram não chegaram a ser internadas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI); 15% não receberam assistência ventilatória e apenas 64%, entrando ou não na UTI, foram entubadas e ventiladas. "Isso nos mostra que nosso sistema de saúde está falhando em atender a essas mulheres", afirma a médica, que é membro da Comissão Nacional de Especialidades de Urgências Obstétricas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

No final de julho, o mesmo grupo publicou um estudo na área de Doenças Clínicas Infecciosas da Oxford Academic mostrando que, no Brasil, mulheres negras foram hospitalizadas em piores condições e apresentaram maiores taxas de admissão na UTI, uso de ventilação mecânica e óbito.

 

Morte materna

São consideradas mortes maternas aquelas que acontecem durante a gestação, parto ou puerpério, período que compreende até 42 dias após o parto. Elas são importante indicador para a saúde de um país e um dos chamados eventos sentinela — que não deveriam ocorrer caso o serviço de saúde funcionasse adequadamente.

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