Logo O POVO+
PIB do Brasil cai em nível recorde no segundo trimestre de 2020
Reportagem

PIB do Brasil cai em nível recorde no segundo trimestre de 2020

IBGE divulgou os dados do período inicial da crise do novo coronavírus. No quarto trimestre até junho, a queda foi de 2,2%
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
PRESIDENTE JAIR Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP PRESIDENTE JAIR Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes

A soma de riquezas produzidas no Brasil entre abril e junho deste ano teve o pior resultado da história, com queda de 9,7% na comparação com o trimestre anterior. Essa retração é impacto direto da pandemia do novo coronavírus. O resultado coloca o Brasil em recessão técnica e faz o País regredir na economia aos níveis de 2009.

O recuo no trimestre passado foi maior do que a soma de todos os 33 meses da crise anterior, entre 2014 e 2016. Se levarmos em conta o acumulado do ano, a retração é de 11,9%, recessão mais profunda desde a década de 1980. O resultado do trimestre foi pior do que o mercado previa. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda revisou o resultado do primeiro trimestre e apontou que a redução no período foi de 2,5%.

+OPINIÃO - O tombo do PIB e o velho discurso do "poderia ser pior"

+ANÁLISE - O tombo na economia: com queda de 9,7% no trimestre, Brasil entra em recessão técnica

Apesar do resultado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a queda da economia no ano deve ser menor do que o esperado. "Estamos decolando em V", sintetizou.

Luiz Eduardo Barros, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), concorda com a visão de que o Brasil vem surpreendendo com os resultados da economia, já que a previsão no início da quarentena se desenhava bem pior.

"As perspectivas eram de uma queda bem mais profunda, mas mostra que os brasileiros estão se recuperando bem da pandemia. Mas não é caso de comemoração, mas para esperar por melhoria de resultado no segundo semestre. O que esperamos é que os ajustes na economia ocorram já em 2021", afirma.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, que, em maio, chegou a estimar uma retração de 17,3% no PIB do segundo trimestre, já havia revisado sua projeção, na semana passada, para uma queda de 9,7%. Além do impulso do auxílio emergencial no consumo, contribuíram para a melhora do quadro, na visão de Vale, a baixa adesão dos brasileiros à quarentena, que manteve alguns comércios funcionando, e o crescimento do agronegócio. O PIB da agropecuária teve o melhor desempenho dentre os componentes da oferta, com alta de 0,4% ante o primeiro trimestre.

"Há commodities que não são agrícolas, mas também se beneficiaram do aumento da demanda chinesa e do câmbio, como minério de ferro e também petróleo, num grau menor. Se você junta esses segmentos todos, estamos falando de 35% a 40% do PIB com retorno positivo no primeiro semestre", afirma Vale.

No entanto, a queda acentuada dos demais setores, do consumo das famílias e do investimento público preocupam para o processo de retomada. O doutor em Economia e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Almir Bittencourt, analisa que o futuro próximo está prejudicado pela "absurda" queda no investimento e o nível de endividamento da União.

Ele explica que a sacrificada capacidade de investimentos do Governo, por causa da regra de ouro e limites do teto de gastos, devem reduzir a capacidade do Estado de contribuir com a recuperação. Por isso, o economista estima que deva levar de dois a três anos para o Brasil recuperar sua economia.

"A queda dos setores foi muito acentuada e gerou expectativa negativa dos investidores. A economia brasileira paralisou. Do ponto de vista econômico, a recuperação é muito difícil e deve acontecer lentamente após esse baque", destaca.

Para o resultado acumulado do ano, o economista da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, pela expectativa do índice Focus, avalia que é a quinta semana seguida de redução da expectativa de menor queda do PIB, mas ainda paira a incerteza no ar, com previsão de recuo acima dos 5%. "Esperamos que o segundo semestre seja de retomada, mas agosto se mostrou um mês de incerteza, com as mudanças no Ministério da Economia, o Brasil descolou um pouco do resto do mundo. Mas precisamos mensurar semana a semana. As empresas não estão produzindo na sua capacidade e a queda no consumo das famílias preocupa."

 

PREÇOS

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) encerrou agosto com alta de 0,53%. O índice do mês representa aceleração ante o resultado de julho, quando houve elevação de 0,49%, e também ante a terceira quadrissemana de agosto, que atingiu 0,51%. No acumulado de 2020, o IPC-S chegou a 1,58%. Nos 12 meses até agosto, o indicador acumula inflação de 2,77%, informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"FICO"

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que não se sente isolado no governo e garantiu que tem a disposição e a energia para continuar propondo reformas na economia. "Sinto a responsabilidade do Congresso comigo e isso me dá força para ficar".

QUEDAS

A maioria das bolsas da Europa fechou o pregão de ontem em queda, com as praças locais bastante pressionadas por indicadores econômicos fracos divulgados ao longo da sessão.

O que você achou desse conteúdo?