Logo O POVO+
A corrida das universidades no combate à Covid-19
Reportagem

A corrida das universidades no combate à Covid-19

Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 1.260 pesquisas sobre a doença estão sendo conduzidas em 68 instituições federais
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

A mobilização da comunidade científica em torno da pandemia extrapola a corrida pela vacina. Pesquisas da biologia viral, da imunologia e de áreas correlatas têm centralidade no atual contexto, mas em todo o País cientistas de diferentes campos estão contribuindo para enfrentar o novo coronavírus. Mesmo com aulas paralisadas ou em dilemas para o ensino remoto, as universidades desempenham papel central nessa corrida para compreender a pandemia de Covid-19 e trabalham para seu enfrentamento amplo.

Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 1.260 pesquisas sobre a doença estão sendo conduzidas em 68 instituições federais brasileiras. "As universidades federais não paralisaram suas atividades. Se apresentaram, desde o primeiro momento, para o enfrentamento desse vírus e dos desafios impostos pela pandemia, deixando à disposição os laboratórios e sua estrutura", afirma Edward Madureira, presidente da entidade.

Recentemente, quatro projetos da Universidade Federal do Ceará (UFC) foram contemplados na chamada pública de pesquisas para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Um estudos busca avaliar os riscos de profissionais de saúde que cuidam de pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2; já outro investiga se a infecção durante a gravidez pode resultar em complicações neuropsiquiátricas para os bebês.

Pesquisadores da UFC também estão envolvidos em produções de equipamentos, como o Elmo - um respirador mecânico não invasivo -, protetores faciais a partir de canos de PVC e a CovidBox - proteção para procedimentos cirúrgicos e para processos de intubação - no Hospital Universitário Walter Cantídio. O último equipamento é de baixo custo e composto por armação de aço inox esterilizável, revestida por um plástico estéril descartável. No box de plástico, são feitas aberturas laterais que garantem o acesso do médico ao paciente, preservando a ergonomia e a segurança.

Na Universidade Estadual do Ceará (Uece), o Grupo de Estudos em Neuroinflamação e Neurotoxicologia analisaram fatores imunológicos e comportamentais para apontar que portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem ser um grupo de risco na pandemia. O estudo intitulado ganhou visibilidade internacional, após ser divulgado em biblioteca virtual da Organização Mundial da Saúde (OMS). "A gente fez a prospecção de vários trabalhos já publicados na literatura das comorbidades e chegamos a conclusão de que pessoas com TEA são mais suscetíveis a infecções", pontua Gislei Frota, coordenador do grupo.

Outra linha de pesquisas importante para o enfrentamento da pandemia são os instrumentos de vigilância e modelagem epidemiológica, a fim de acompanhar a velocidade e os fluxos de transmissão do novo coronavírus. O Laboratório de Pesquisa, Inovação e Software (Lapis) do campus Tabuleiro do Norte do Instituto Federal do Ceará (IFCE) criou uma plataforma para o georreferenciamento dos casos de Covid-19. O objetivo do sistema é permitir que os municípios cearenses possam cadastrar, gerenciar e acompanhar os casos em tempo real de forma gratuita. Na Universidade Federal do Cariri (UFCA), professores do Centro de Ciências e Tecnologia criaram um painel de monitoramento da Covid-19 no Brasil e no mundo, além do aplicativo Covid-19 Cariri. Disponível para Android, o app permite acompanhar a incidência na região, por cidade, por bairro, por sexo e por idade.

Para Jorge Soares, diretor de inovação na Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), tamanho envolvimento para buscar soluções só foi possível devido a investimentos anteriores e continuados. "No dia a dia, é preciso dar as condições para que as universidades e institutos desenvolvam seus laboratórios e suas competências. Se você não tem isso devidamente qualificado, pessoas e infraestrutura, você não vai ter ajuda em um momento de crise", argumenta. "Isso gera, nesse momento, respostas das mais simples às mais sofisticadas."

Soares enfatiza que bolsas de pesquisa e programas que permitam trocas de conhecimento com outras instituições são fundamentais. Segundo ele, uma potencialidade diferencial no Ceará é ter "uma demanda qualificada que vem da conexão entre a administração pública e as universidades". Diante da pandemia, a Fundação criou uma linha emergencial de financiamento, em parceria com universidades, órgãos do governo e entidades empresariais. "É essa irrigação que permite ao sistema uma qualificação contínua. Na pandemia, ficaram evidentes tanto as áreas que o Brasil tem investimento quanto as que não tem", afirma.

 

O que você achou desse conteúdo?