A equipe do presidente eleito dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, anunciou que está preparada para “qualquer cenário que possa surgir” no inauguration day (dia da inauguração), como é conhecido o dia da posse presidencial no país, nesta quarta-feira, a partir do meio-dia (14 horas em Brasília).
A tensão em Washington salta aos olhos de quem transita próximo ao Capitólio, cercado por arames, blocos de concreto e 25 mil soldados da Guarda Nacional. A cerimônia de posse de Biden será diferente de tudo que já se viu na democracia americana.
A violência política contra presidentes nos EUA é algo inédito, com quatro deles sendo mortos no exercício do cargo. Por isso a segurança em cerimônias que envolvem o chefe da nação, naturalmente, envolvem esquemas minuciosos.
No entanto, as imagens do ataque à democracia por extremistas pró-Trump, no início deste mês, geraram maior apreensão e consequentemente adoção de medidas mais rigorosas.
“A apreensão é a maior diferença desta posse para as anteriores. Antes não tínhamos essa inquietação para saber se tudo vai ocorrer como deve, se não haverá protestos ou mesmo atentados. A segurança em posses é tradicional, mas a ideia dessa expectativa, não. As pessoas querem que o evento ocorra logo para fechar esse ciclo”, explica Lucas Leite, professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
Para Leite, a ausência de Trump na posse, anunciada pelo próprio presidente nas redes sociais antes de ter a conta banida de várias plataformas, é “menos prejudicial” do que se ele estivesse presente.
“A não ida de Trump significa uma perpetuação daquilo que ele sempre foi enquanto esteve no poder: um antidemocrata, um homem autoritário, alguém que não se preocupa com os ritos democráticos. Penso que as pessoas já esperavam que ele não fosse à cerimônia”, pontua.
Esta semana, um membro da equipe de transição disse a jornalistas que o plano é que Biden faça o juramento na escadaria do Capitólio, como tradicionalmente ocorre, mas sem descartar a possibilidade de que a cerimônia ocorra no interior do prédio caso necessário.
O único rito essencialmente obrigatório durante a posse é que o presidente recite o juramento previsto na Constituição. O local, desfiles e outras cerimônias são mais tradição do que necessidade constitucional em si.
Fábio Gentile, cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) considera que a posse de Biden, até certo ponto, pode ser vista como o início de um lento retorno à normalidade.
“A primeira coisa após a posse é resgatar a confiança nos princípios constitucionais e governar para a maioria e para a minoria. Dar o exemplo, respeitando as instituições, a democracia e a constituição”, defende.
Para ele, é importante ficar atento à movimentação nos EUA durante o início da gestão Biden, porque esta pode “indicar um caminho” para outras democracias ao redor do mundo.
“Os EUA são uma liderança e indicam, sim, um caminho. Claro que não podemos confiar somente nessa lógica mecanicista, mas é provável que a democracia liberal esteja reagindo à patologia populista”, destaca.
Quando assumir, Biden terá que gerir múltiplas crises. Os EUA estão no momento mais crítico da pandemia de Covid-19, com recordes de mais de quatro mil mortes diárias e atingindo nesta terça-feira, 19, 400.000 mortes totais.
Além disso, o descontrole na pandemia prejudica diversas searas como a economia e a geração de emprego e renda. A partir de hoje, a habilidade do democrata, que na campanha repetiu o termo “time to healing” (tempo de curar) será testada à exaustão.
Segurança
Doze homens da Guarda Nacional foram afastados ontem da operação de segurança para a posse, dois deles por possíveis ligações com grupos de extrema-direita, informou o Departamento de Defesa